Depoimentos em CPI comportam piadas e ironias

Magno Malta (PR-ES) mostra vídeo com abuso de menina de 2 anos

PUBLICIDADE

Por Laura Diniz
Atualização:

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia do Senado, instalada no plenário Tiradentes da Assembléia Legislativa de São Paulo, convocou ontem o depoimento, na condição de testemunha, do psiquiatra Eugênio Chipkevitch, condenado a 114 anos de prisão por abuso de menores. Embora não tenha nada a ver com a rede de pedofilia investigada pela comissão, comandada pelo senador Magno Malta (PR-ES), o médico foi obrigado a comparecer à sessão e impedido de manter o anonimato, como queriam seus defensores. Um camburão e um carro de escolta com policiais militares foram usados para trazer o médico de Sorocaba (SP), onde está preso há sete anos, para a capital, apesar de os senadores saberem que ele permaneceria em silêncio, como já havia avisado o advogado dele, Carlo Frederico Müller. Assim que foi dada a palavra a ele, o médico confirmou que se manteria em silêncio, mas mesmo assim foi questionado por meia hora. Os senadores Malta e Romeu Tuma (PTB) insistiram: "Que tipo de pena merece um pedófilo?" e "Pedofilia é doença?". Em tom irônico, Tuma chegou a questionar: "Quer um café?" Ao insistir para que o médico respondesse, Malta não se furtou ao direito de fazer piadinhas. "Eu, cineasta de mim", disse o senador, parafraseando uma música interpretada por Milton Nascimento, Caçador de Mim. "O silêncio pouco significa, pois o rosto dele está nos vídeos", enfatizou Tuma, sobre a principal prova que resultou na condenação do psiquiatra. "Em suas orações, o senhor fala com Deus ou também fica em silêncio?", ironizou Tuma. Müller disse que irá processar os senadores por abuso de autoridade e o promotor José Carlos Blat, porque ele compareceu à CPI, durante a tarde, para falar sobre o caso, que está sob segredo de Justiça. Pela manhã, o pai-de-santo Márcio Toledo, acusado de ser o chefe de uma rede de pedofilia em São Paulo, passou por uma acareação com o denunciante do esquema. Com advogados menos combativos do que Müller, foi xingado por Malta de "vagabundo" e "pilantra". Durante o depoimento de Toledo, o senador ainda mostrou ao acusado, em um laptop, um vídeo de pornografia infantil e posicionou o microfone da mesa na caixa de som do aparelho para que todos que estavam no plenário pudessem ouvir os apelos de uma menina de 2 anos, vítima de abuso sexual.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.