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Aécio Neves EX-GOVERNADOR E SENADOR DO PSDB POR MINAS GERAIS"Ganhei na Câmara por causa do Covas"

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Por Redação
Atualização:

"Mário Covas não se preocupava com circunstâncias, mas com convicções. Ou era admirado ou era temido. Tem um episódio muito marcante na minha vida com o Covas, quando, em 2000, eu tentei fazer uma aliança para me eleger presidente da Câmara. Eu achava que era hora de o partido assumir a presidência da Casa. Mas eu não tinha o apoio do governo, que queria preservar a sua aliança com o PFL. Decidi então ir a São Paulo, falar com o governador. Disse a ele: governador, eu tenho condições de disputar. Ele me perguntou: "Você acha que tem chance? Tem os votos? Então dispute". Numa sexta-feira, já doente, Covas pegou um avião e foi a Brasília. Entrou na sala da liderança, abraçando todo mundo, e disse: "E por que é que o PSDB não pode ter a presidência da Câmara? Pode sim. Aécio é nosso candidato". Eu ganhei a eleição à presidência da Câmara por causa do Mário Covas."

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"Na minha memória, a cada ano que passa, o Mario Covas se torna maior e melhor. Vão ficando seus atributos essenciais: a coragem de defender suas ideias, a dedicação à vida pública, a integridade pessoal. Lembro com carinho do Mario. Eu o conheci em Santos quando eu era presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e ele, deputado recém-eleito, pela primeira vez, antes do golpe de 1964. Só o revi quando voltei do exílio, no final dos anos 70. Passamos a conviver e batalhar sempre do mesmo lado. Cada um apoiou o outro nas vitórias e derrotas. Devo a ele ter sido relator de vários capítulos importantes de nossa Constituição. O Mario era esquentado. Em comícios, mais de uma vez, ajudei a segurá-lo quando ele se dispunha a descer do palanque e partir para a briga, quando alguém gritava ou exibia algo ofensivo, alguma baixaria. O Mario Covas não tinha casca grossa para absorver ofensas pessoais, o que é incomum entre os políticos."

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"O Mario Covas era um homem que tinha apreço pela democracia porque tinha respeito pelas pessoas e pelo povo. Ele era, às vezes, bravo. Eu me lembro que uma vez, chegando ao gabinete, ele governador, eu, vice, e a dona Ana, a secretária, falou para o Mario Covas: "Como o senhor está bem-humorado!". Ele olhou assim para ela e disse: "Não conte para ninguém". Às vezes, também revia suas posições. Eu fui eleito presidente do PSDB de São Paulo, e o Covas tinha apoiado a Zulaiê Cobra Ribeiro. Veja o que é um homem magnânimo, porque eu não tive o apoio dele, ganhei a eleição e depois ainda virei vice-governador dele duas vezes. Eleito presidente do diretório, fui ao gabinete dele. Tinha lá um jornal pregado na parede: "Covas derrotado". Falei: "Olha senador, me dê tempo, e o senhor vai ver que eu serei um presidente do partido". Três semanas depois, fizemos um almoço para arrecadar fundos para o PSDB. O Covas e a d0na Lila foram os primeiros a chegar."

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"Meu avô fazia política 24 horas por dia, sete dias por semana. Em 1995, vim morar com ele em São Paulo para estudar e acabei acompanhando-o nos seis anos de governo. Foi uma grande experiência, que nos aproximou. É impressionante o fato de que em um país como o Brasil, onde ser político muita vezes significa somente coisas ruins, ele ainda seja tão lembrado dez anos depois de sua morte. Muitas pessoas, quando contam histórias dele, se emocionam. Se a gente for ver tudo o que ele fez, muito mais do as obras e outras realizações, ficaram os exemplos. O grande sonho dele era construir uma ponte para reduzir a distância entre ricos e pobres. Uma vez, nas férias, cheguei em casa de madrugada, fazia muito frio e ele estava acordado. Perguntei, de brincadeira, se ele havia perdido o sono. "Como você consegue dormir sabendo que há tanta gente que não tem onde morar?", foi a resposta que deu."

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