Deputado tentou 7 habeas-corpus em favor de traficantes

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Por Agencia Estado
Atualização:

Os relatórios da Polícia Federal sobre a investigação de três anos em torno de Leonardo Dias Mendonça, o Léo, indicam que o deputado Francisco Pinheiro Landim (PMDB-CE) tentou intermediar, pelo menos, sete habeas-corpus em favor de traficantes. Fazem parte dessa lista três colombianos, denominados nas conversas gravadas pela PF como "três alqueires". O valor do recurso seria de US$ 300 mil, segundo confessou Léo, também envolvido na negociação. Para tentar liberar os traficantes Daniel Gomes Canon, José Rubem Restrepo Aguilar e Efrain Ocampo Ortiz, Léo receberia deles uma propriedade no valor de US$ 1,5 milhão. Cada um dos presos teria de dar US$ 100 mil para o esquema. "Esse negócio dos três alqueires, se não for comigo, num sai nada, sócio, nada, nada, nada...", diz Léo para seu colaborador Antônio Carlos Ramos. A negociação começou em fevereiro deste ano, conforme revelam as gravações feitas pela PF. Ao longo do tempo, entraram no esquema o estudante de Direito Igor Silveira, filho do desembargador federal Eustáquio da Silveira, e Landim. Em uma conversa entre os dois, o tratamento aos traficantes é o mesmo. "Dá pra plantar nesses três alqueires, aí?", pergunta Igor a Landim. "Tudo bem, planta", responde o parlamentar. Nas conversas, Landim deixa claro que já fez contatos no meio jurídico, por intermédio de Igor. "Não custa nada você ver com nosso amigo para ele dar uma examinada rápida, para ver se te... se existe alguma coisa nesse sentido, que pode ser que exista alguma coisa... sei lá", pede o parlamentar ao filho do desembargador. Igor diz a Landim que armou a estratégia, que teria de contar com as férias dos magistrados, não informando em qual tribunal o caso estava sendo julgado nem qual foi a decisão. Além dos três colombianos, segundo relatórios da PF, Landim teve envolvimento nas negociações para libertar outros dois traficantes - Ecival de Pádua Santomé e Amarildo Oliveira Beirigo -, além do próprio Léo e seu sócio Wilson Moreira Torres. Quando a prisão dos dois foi decretada, a pedido da Superintendência da Polícia Federal no Pará, o parlamentar conversava com Torres, orientando até sobre a forma de impetrar o habeas-corpus. "Tem de ter prudência, pode até sair dentro de dois ou três dias. Precisamos ter... dizer que está sendo cuidado com toda responsabilidade, que é possível, então, pronto. Isso é que você precisa ficar tranqüilo", ensina Landim a Torres. Léo e seu sócio ainda conversaram sobre o assunto, voltando a citar Landim, mas com rancor. "Rapaz, eu falei com aquele velho lá, fiquei p... com ele", reclamou Torres. "Eu também falei", respondeu Léo. A negociação para Léo ter o habeas-corpus, segundo as investigações da PF, teria custado R$ 337 mil ao traficante, que já estava irritado com a falta de decisão. "Liga pra essa desgraça desse cabeça chata, que esse fdp... só serve pra botar no bolso, entendeu? Então, é pra se virar. Eu não quero nem conversa. Amanhã eu quero...ou é ou não é, se deixa de ser", diz Léo a Antônio Carlos Ramos. Segundo os relatórios da PF, Landim mantinha uma relação de amizade com o desembargador do Tribunal Regional Federal (TRF) Eustáquio Silveira e também com o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Vicente Leal, mas não se sabe se os dois tinham participação no processo dos traficantes. "Ontem, eu encontrei o deputado. Estava lá na festa do, do Vicente Leal, no casamento da filha dele", conta Eustáquio ao filho Igor, confirmando o vínculo entre eles. Eustáquio, em outra conversa, manda o filho avisar Landim de que havia resolvido o problema do irmão do parlamentar, no Ceará, supostamente com ajuda de uma outra pessoa. "O colega lá me prometeu que o negócio vai ser resolvido", diz o desembargador. "Ah, que beleza", responde Igor. "O que não é fácil, né? Porque com aquele ali é fogo, viu? ", encerra Eustáquio. Landim não respondeu aos pedidos de entrevista do Estado para falar sobre o assunto. O tráfico e suas conexões

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