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Derrubada fortaleza do tráfico na Mangueira

Túnel na quadra da escola servia para acesso e fuga de bandidos

Por Felipe Werneck
Atualização:

A três semanas do carnaval, cerca de 280 policiais civis subiram o Morro da Mangueira, na zona norte, e acharam uma fortificação de concreto e ferro com oito "janelas" para atiradores, de 35 metros de comprimento, 3 metros de altura e um palmo de profundidade, na curva do Elvis, no alto na favela. Também foi descoberto um campo, na Vila Miséria, conhecido como "microondas", com partes de corpos carbonizados. Os policiais desceram o morro com cerca de 1 tonelada de maconha e 12 presos, dos quais 4 em flagrante. Foram apreendidos ainda um fuzil, uma pistola, uma granada, munição, dez motos roubadas e pequena quantidade de crack e de cocaína. Pelo menos um acusado foi baleado. Segundo a polícia, houve confronto e ele fugiu. Durante a operação, um ônibus foi incendiado em São Cristóvão, perto de um dos acessos ao morro, supostamente em represália à ação. Ninguém se feriu. "Havia crianças e idosos. Todos desceram rápido e não sei como ninguém ficou ferido", disse o aposentado Antônio Gomes, de 82 anos. A PM chegou apenas quando os bandidos já haviam deixado o local. A operação foi realizada para cumprir sete mandados de prisão expedidos pela Justiça contra acusados de liderar o tráfico no morro, incluindo Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, um dos compositores do samba da Mangueira - que assina como Francisco do Pagode. Nenhum dos mandados foi cumprido até o fim da tarde, o que levantou a suspeita de "vazamento" da operação, iniciada às 6 horas. Tuchinha ficou preso por 17 anos e estava em liberdade condicional desde 2006. A Mangueira informou que, quando participou da disputa do samba-enredo, Tuchinha estava em liberdade. O chefe de operações da 17ª DP, Marco Antônio Carvalho, afirmou que escutas autorizadas pela Justiça mostraram o "poder de comando" de Tuchinha. "Ele fala sobre armas e movimentação de dinheiro." Policiais acharam ainda uma "passagem secreta" para a quadra da Mangueira, que seria usada para acesso e fuga de traficantes. A Mangueira afirmou que a passagem é oficial e leva a um anexo da escola "Prefiro mil vezes quebrar a logística do que pegar um líder", disse o secretário da Segurança, José Mariano Beltrame. "Não que o líder não seja interessante. Mas, se tirei 1 tonelada de maconha, ele vai ter de correr atrás. Agora, se prendo o líder hoje, às 13 horas já terá outro lá." Apesar de policiais terem dito que três pistolas foram apreendidas, só uma foi apresentada na 17ª DP. "Sou viciado. Nunca vi isso (a maconha apreendida) na minha vida e ainda tenho de apanhar", disse um dos presos, Jorge Francisco da Silva, de 55 anos. "Meu cliente está limpo, é trabalhador. Isso acaba com a vida do cara", disse Ésio Lopes, advogado de outro preso, Gilberto Ferreira dos Santos, de 28, o Gil. Segundo a polícia, ele foi preso com um fuzil. Policiais destruíram parcialmente a fortaleza dos criminosos com o veículo blindado caveirão. "Daqui, eles (traficantes) ficavam em posição privilegiada. Vamos derrubar e deixá-los mais vulneráveis", disse Caldas. Apontado como um dos chefes do tráfico na Mangueira, Alexander Mendes da Silva, o Polegar, que sairia anteontem da prisão, beneficiado pela Visita Periódica ao Lar (VPL), foi citado no inquérito e teve mandado de prisão temporária expedido. COLABORARAM MARCELO AULER E PEDRO DANTAS

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