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Desde maio, região dos Jardins registra 18 assaltos a residências

Levantamento é de batalhão da PM que também responde por Pinheiros; em agosto, teriam sido 4 em 10 dias

Por Fernanda Aranda e Vitor Hugo Brandalise
Atualização:

Desde maio, os bairros de Pinheiros e Jardins - áreas das mais nobres da capital - tiveram 18 roubos a residências, segundo dados do 23º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela região. Só nos últimos dez dias, quatro casos ocorreram no circuito de luxo, nos Jardins Europa, Paulistano e América. Como hipótese inicial, a polícia aponta para uma quadrilha especializada, que teria feito como vítimas, na semana passada, as casas dos secretários da gestão Serra (PSDB) Guilherme Afif Domingos (Emprego e Relações de Trabalho) e Luiz Roberto Barradas Barata (Saúde). Anteontem, na mesma vizinhança, o imóvel do filho do deputado estadual e ex-prefeito (1982-1983) de São Paulo Antônio Salim Curiati (PP) foi atacado. A evidência de que um mesmo grupo criminoso atua na área é que os bandidos agem de forma semelhante: conhecem em detalhes a rotina dos moradores, os abordam quase sempre com a desculpa da entrega de um serviço ou produto e depois reagem com violência. No caso da residência do filho do deputado, o empresário Antônio Carlos Curiati, os ladrões tinham o controle remoto do portão da casa. "Eles agiram como se fossem moradores. Encostaram um carro escuro e com película nos vidros na frente da garagem e abriram o portão", disse o vigia Uires Nonato da Silva, que presenciou a cena da guarita onde trabalha, na Rua Turquia, próxima da residência. Depois de render a cozinheira e a doméstica da casa, que estavam no térreo, quatro ladrões armados e cobrindo a cabeça com toucas ninja mandaram chamar os filhos do empresário, Arthur, de 20 anos, e Isabella Curiati, de 22, que estavam nos seus quartos, no segundo andar da casa. Os ladrões agiram com violência, agredindo a empregada com coronhadas e tapas na cabeça, "porque estava muito folgada", segundo seu depoimento. Eles buscavam joias e dinheiro. Enquanto os ladrões mantinham Arthur, a doméstica e a cozinheira num dos quartos, Isabella e o namorado, Tomás Gabriel Yazbek, de 22 anos, que também estava na casa, tentaram fugir saltando pela janela de outro cômodo - na queda, a garota fraturou o joelho. Os jovens foram rendidos pelos bandidos no jardim e levados de novo ao interior da residência. Foi quando o vigia Silva ouviu gritos e chamou a polícia - ele "já suspeitava da movimentação de um Palio e de um furgão Ducato que trafegavam antes na rua", segundo disse à polícia. Ao chegar, os PMs depararam com um Passat cinza deixando a garagem. Com a polícia no encalço, o carro trafegou em zigue-zague até a Avenida Europa, onde os bandidos pararam, saltaram do veículo e abriram fogo contra os policiais. Na troca de tiros, um dos ladrões foi baleado na perna direita. Na sequência, os bandidos renderam o motorista Juan Contreras, que trafegava pela região. Seu veículo foi roubado. O carro negro, o primeiro a entrar na casa dos Curiatis, deixou o local antes de a polícia chegar, também pela garagem. Ainda durante a troca de tiros, os ladrões deixaram na rua uma mochila cheia de joias - 27 anéis, 42 brincos avulsos, 82 pares de brincos, 89 correntes, 40 pingentes, 4 broches, 9 colares, uma gargantilha e um relógio, além de outras 34 "peças de bijuteria". Os ladrões levaram cerca de 3,5 mil de Yazbek, além do Gol e de R$ 1,5 mil de Contreras. Abandonado na rua, o Passat dos Curiatis, utilizado pelos bandidos na fuga, foi devolvido. Após passar por cirurgia no joelho, Isabella Curiati estava sob observação no Hospital Sírio Libanês até as 20h de ontem. "Estamos tentando assimilar, não houve sinais de que isso iria acontecer, nem sabemos o que pensar", disse a mãe de Isabella, Adele Zarzur Curiati. Segundo João Carlos Maradei, presidente da Associação de Moradores do Jardins, a Ame Jardins, bandidos também mostraram intimidade nas outras ocorrências da região, como na casa do secretário estadual de Emprego e Relações de Trabalho, Guilherme Afif Domingos, no Jardim Paulistano, na última quinta-feira. Na ocasião, os bandidos chegaram com entrega endereçada ao secretário, alegando ser "muito pesada". Com isso, conseguiram entrar na residência, já sabendo de antemão onde dinheiro e joias eram guardados. No dia anterior, na quarta-feira, a residência do secretário estadual da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, localizada no Alto de Pinheiros, sofreu ação criminosa igual. O caso foi registrado no 14ª DP (Pinheiros). Nilze Scaputiello, titular do 15º Distrito Policial (Itaim-Bibi) diz que, além de conhecer em detalhes os hábitos da casa, os bandidos sabiam quem eram os moradores. "Outra constante é que todas casas tinham vigilância 24 horas, com guaritas. É impossível que alguém próximo das famílias, que conheça a rotina da casa, não esteja envolvido", disse. "Funcionários e mesmo vigias serão investigados." CENTRALIZAÇÃO A centralização de roubos nos Jardins obedece alternância com os crimes em Pinheiros. Isso porque os números do 23º Batalhão da PM mostram estabilidade nos assaltos às residências: dois em maio e, entre junho e agosto, seis por mês. "A impressão é que, de tempos em tempos, se elege uma região alvo", observa Maradei. "Já foi o Morumbi (zona sul), depois Lapa, Pinheiros e agora nós."

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