Detentos comandam rede de tráfico de dentro das celas

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Por Agencia Estado
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Cinco traficantes presos nas penitenciárias de segurança máxima de Mirandópolis, Lavínia e Valparaíso, no interior de São Paulo, comandaram de dentro das celas, por mais de um ano, uma extensa rede de narcotráfico que movimentava cerca de R$ 1 milhão por mês com a venda de cocaína. A droga era trazida da Bolívia e do Peru e vendida na capital paulista e em cidades do interior do Estado. Sessenta pessoas da rede estão presas em São José do Rio Preto, entre elas quatro advogados, empresários e funcionários do Poder Judiciário. Investigações feitas durante um ano pelo Ministério Público resultaram em 3.000 horas de gravação de escutas telefônicas nos presídios paulistas. Uma sindicância aberta pela Corregedoria dos Presídios do Estado vai apurar como os traficantes conseguiram os celulares e como se comunicavam mesmo com os bloqueadores. As escutas divulgadas nesta semana pela Rede Globo revelam que, por meio de celulares e apesar dos bloqueadores, os detentos combinavam a compra e distribuição de drogas, mandavam mensagens para comparsas do lado de fora de prisão, recebiam telemensagens e até combinavam a compra de sentenças do Judiciário. O principal chefe da rede é Jair Carlos de Souza, o Jajá, um dos líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital), que está preso na Penitenciária de Mirandópolis. Os outros são Edson José Costa, O Edinho, que está preso na Penitenciária de Lavínia, Mário Sérgio Costa, o Esquerda, e Marcos Roberto Cicone, o Cicone, também detidos em Mirandópolis, e Anísio Pedro Gonçalves, o Anisião, detido em Valparaíso. Em um dos trechos divulgados, Jajá diz para o advogado Narciso Fuser - também preso acusado de pertencer à rede -, estar disposto a gastar até R$ 150 mil para comprar um hábeas corpus. Na ocasião, Fuser tinha entrado com pedido de hábeas do seu cliente no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Trechos das escutas divulgados pela rede Globo mostram que, apesar dos bloqueadores, Jajá conversava normalmente de dentro das celas da penitenciária de segurança máxima de Mirandópolis. Em uma delas, Jajá recebe uma telemensagem, de conteúdo amoroso, de sua mulher: Telemensagem: "Alô, eu gostaria de falar com o Jair?" Jajá: "Viche, ainda fala meu nome! Quem quer falar?" Telemensagem: "Oi, é uma telemensagem da sua esposa" (segue uma narração de mensagem amorosa com fundo musical). Em outro trecho, Jajá negocia a comercialização de cocaína, chamada de "tinta branca" e de crack, chamado de "tinta amarela". O trecho: Traficante: "ontem eu falei com o gordo à noite, ele falou que ia arrumar duas tinta branca e falou que vai ver o que dá pra arrumar de amarela." Jajá: "Pra mim ele falou que você arrumou tinta branca." Em outro trecho, uma mulher fala com o traficante Jajá, que aparentemente está desanimado com o prejuízo tomado com a apreensão de uma carga de droga. O trecho: Mulher: "Que aconteceu ontem aí? " Jajá: "Aqui não aconteceu nada, aconteceu lá na rua". Mulher: "é problema?" Jajá: "Prejuízo de cento e vinte mil" (reais, o valor da droga apreendida).

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