DF mantém empresas citadas por propina

Wilson Lima concede aditivos e renova sem licitação contratos da era Arruda

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Por Leandro Colon
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/ BRASÍLIAQuatro meses após a revelação do "mensalão do DEM" no Distrito Federal, empresas citadas no inquérito conduzido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) ainda operam em Brasília. Assinam contratos sem licitação, prorrogam outros até 2011 ou recebem aditivos milionários por serviços prestados ao governo dirigido, interinamente, pelo deputado Wilson Lima (PR).A suspeita não inibiu a permanência no governo de empresas como Link Net, Politec Tecnologia, Uni Repro, Adler Assessoria, Manchester Serviços e Juiz de Fora Serviços Gerais, entre outras citadas na investigação. Ontem, o Diário Oficial do Distrito Federal publicou, por exemplo, a prorrogação, até 2011, de um contrato entre a Secretaria de Estado de Governo e a Adler Assessoramento e Representações Ltda. Em três anos, a Adler recebeu, pelo menos, R$ 26,5 milhões do governo, dos quais R$ 9 milhões oriundos dessa secretaria. Wilson Lima é candidato nas eleições indiretas que vão escolher dia 17 de abril o sucessor de José Roberto Arruda, preso na Polícia Federal e cassado por infidelidade partidária. Segundo o inquérito no STJ, a Polícia Federal encontrou nas dependências da Granja de Águas Claras, residência oficial do governador do DF, dinheiro cuja série numérica é a mesma de um lote de cédulas apreendidas na Adler, que presta serviços na área de informática. Um diretor da empresa já foi convocado pela CPI da Corrupção, instalada na Câmara, para prestar depoimento.Na segunda-feira, foi publicada a contratação, sem licitação, da Politec Tecnologia da Informação pelo Banco de Brasília (BRB), dirigido pelo governo do DF. A empresa vai receber R$ 2,1 milhões por seis meses de serviços. O grupo Politec já recebeu, ao menos, R$ 50 milhões nos últimos três anos. Esquema. Ex-secretário de Relações Institucionais e delator do esquema de corrupção, Durval Barbosa afirma em depoimento que a Politec fazia parte do esquema de arrecadação de propina para políticos. A empresa nega as acusações.Já a Link Net Tecnologia teve um contrato prorrogado semana passada com a Secretaria de Esporte. A empresa ficou conhecida depois que seu dono, Gilberto Lucena, apareceu em um vídeo com Durval Barbosa em que discutem a distribuição de propina a integrantes do governo. Em depoimento, Durval afirma que Lucena entregava o dinheiro em caixas de papelão. Fornecedoras de mão de obra terceirizada, as empresas Manchester e Juiz de Fora - citadas no inquérito - receberam, na semana passada, aditivos que chegam a R$ 9,5 milhões em contratos assinados no ano passado com vigência até 2011. No fim de fevereiro, o governo do Distrito Federal havia prorrogado o contrato com a empresa de consultoria Notabilis, investigada e que já teve um filho de Arruda na lista de proprietários.Essenciais. Procurado pelo Estado, o governador em exercício, Wilson Lima, alegou, por meio de sua assessoria, que os contratos "foram prorrogados pelos titulares das respectivas secretarias, porque os mesmos prestam serviços considerados essenciais". "As secretarias estão tomando providências para a realização de novo processo licitatório. Tal decisão foi baseada em iniciativa da Corregedoria-Geral da União, que autorizou, excepcionalmente, a prorrogação de contratos", ressaltou. O BRB e as empresas citadas na reportagem não responderam até o fechamento desta edição. Cofre. Além de gastar com essas empresas, Wilson Lima abriu o cofre e articulou para a Câmara aprovar, na terça-feira, projeto que aumenta os salários de 20 carreiras do serviço público. Os deputados correram para votar o texto em três comissões e, depois, em plenário. A pressa é porque a lei proíbe aumento no período de seis meses que antecede as eleições de outubro. O reajuste se soma a outro já concedido pelo governo do DF aos professores (10%), dentistas (18%) e funcionários do Detran (6%). Juntos, os aumentos representam impacto de R$ 500 milhões.

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