Dia de Doar quer divulgar trabalho voluntário feito no Brasil

Campanha realizada desde 2013 no Brasil, o Dia de Doar começou nos Estados Unidos por ocasião do Dia de Ação de Graças

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Por Julia Marques
Atualização:
Cooperativa Social de Trabalho Arte Empreendedora (Coostafe)trabalha com mulheres que estão no sistema penitenciário Foto: Akira Onuma/Ascom Susipe

SÃO PAULO - A campanha de arrecadação nem terminou e a advogada Carmen Botelho já comemora. A cooperativa que ajudou a fundar em Ananindeua, no Pará, conseguiu juntar R$ 8 mil. Agora, ela quer apoiar outras entidades a alcançarem suas metas. "Precisamos de bons exemplos porque os péssimos acabam contagiando todo mundo", diz. "Temos de mostrar que há coisas boas no País, pessoas dispostas a ajudar." 

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As doações recebidas pela Coostafe, uma cooperativa formada por mulheres que cumprem pena, foram catalisadas pela campanha do Dia de Doar, celebrado nesta terça-feira, 27. Comemorado em várias partes do mundo e no Brasil desde 2013, o Dia de Doar é um convite para apoiar projetos de impacto social. 

A data começou a ser celebrada nos Estados Unidos em 2012, em uma terça-feira após o Dia de Ação de Graças. A ideia é promover a cultura de doação no País. "Todo dia é dia de doar, mas tem um em que a gente celebra isso e faz uma grande mobilização", explica João Paulo Vergueiro, diretor-executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), uma das parceiras da iniciativa. 

A proposta é que as doações, nem sempre divulgadas, "saiam do armário" para criar um ciclo virtuoso de solidariedade. Por isso, as ações podem ser publicadas nas redes sociais com a hashtag #diadedoar. "É usar esse gesto para inspirar outras pessoas", diz Vergueiro. Na edição do ano passado, a hashtag ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter em São Paulo. Vergueiro espera que nesta terça volte a mobilizar os brasileiros.

No caso da Coostafe, as doações recebidas serão usadas na compra de máquinas de costura usadas pelas mulheres na prisão para confeccionar produtos, como bolsas e bonecas, vendidos lá fora. Na cooperativa, as mulheres aprendem um ofício para se dedicarem durante e depois que saírem da prisão. "As pessoas vivem falando que o País não tem segurança, mas o que fazem para reintegrar?", questiona Carmen. 

As contribuições no Dia de Doar podem ser feitas para organizações de todo o Brasil que aderiram à campanha ou em prol de causas pontuais. "Tem gente que doa sangue, cabelos, alimentos. Existem ações singelas feitas por universidades, grupos de escola que se unem, iniciativas de boa vontade. Todo gesto é valido", diz Vergueiro. No ano passado, o Dia de Doar ajudou a arrecadar R$ 678 mil para entidades cadastradas em plataformas ligadas à campanha. 

Cães de moradores de rua são atendidos em ação voluntária na Avenida Paulista Foto: Amanda Perobelli/Estadão

O fotógrafo Edu Leporo, de 45 anos, não espera uma campanha para agir. Vai todos os meses às ruas de São Paulo para ajudar moradores de rua e seus cães. Neste sábado, 24, contou com um time de voluntários. A comitiva, formada até por veterinários, passou a manhã na Avenida Paulista. Os animais ganharam banho quentinho e ração. Para os donos, kit de higiene, corte de barba e cabelo. Mobilizada pela aproximação do Dia de Doar, uma rede de supermercado entregou os lanches. 

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Quando a ação acaba, a sensação, diz Leporo, "é de dever cumprido". Mas dura pouco. "Logo começamos a pensar no mês seguinte, buscar patrocínio. É o mês todo batalhando para quando chegar no dia da outra ação estar tudo pronto", conta. 

O educador Cesar Kawamura é outro que doa com frequência. Conhecedor de orquídeas, ele dedica seu tempo a ensinar outras pessoas a salvar plantas descartadas. O trabalho de replantio de orquídeas que estavam no lixo em troncos de árvores da zona norte de São Paulo já está modificando a paisagem. "O final da primavera é bem a época em que muitas delas começam a brotar. Na copa das árvores já vemos várias", conta, animado, Kawamura, idealizador do projeto Ohquidea.

Cidadania

Para José Marcelo Zacchi, secretário-geral do Gife, associação de investidores sociais, o Brasil tem tradição de engajamento com doações, mas ainda com pouca regularidade e estruturação. "Construir um ambiente cidadão e democrático pleno envolve absorver essa cultura”, diz.  

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Pesquisa divulgada em outubro deste ano mostrou que o Brasil caiu no Ranking Mundial de Solidariedade. O País ocupa apenas a 122ª posição, entre os 146 analisados pela Charities Aid Foundation (CAF). Indonésia, Austrália e Nova Zelândia são as três primeiras do ranking. Os Estados Unidos aparecem em 4º.  

Na edição anterior, o Brasil ocupava o 75º lugar. Segundo o levantamento, 43% disseram que já ajudaram um desconhecido; 14% doaram dinheiro e 13% fizeram trabalho voluntário. Aspectos como a desconfiança sobre a destinação das doações e uma mentalidade de que ações sociais são papel apenas do Estado ajudam a explicar o cenário.

"Organizações da sociedade civil são um setor da sociedade como outros, como é o setor privado, o público, os meios de comunicação. E todos eles estão sujeitos às melhores e às piores práticas. Parte do nosso engajamento tem de ser observar. O fato de uma empresa existir não quer dizer que será necessariamente ética ou não ética. A mesma coisa com uma ONG ou ator público. O controle passa pela ação de cada um de buscar escrutínio", diz Zacchi. 

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