No último ano, problemas sérios com consumo indevido de álcool e drogas, brigas, acidentes e violência sexual foram noticiados em diversas instituições de ensino superior do País. Mas será que esse debate se reverteu em ações efetivas para prevenir que eles voltem a se repetir no ano escolar que se inicia em breve? Na última semana, um artigo publicado no The New York Times trouxe uma reflexão interessante sobre a forma com que as universidades americanas estão lidando com a escalada de violência sexual entre os estudantes, muito ligada ao consumo de bebida. Mais de 1,5 mil universidades americanas estão abraçando o tema do consentimento para o sexo, como forma de evitar estupros e abuso sexual. A sequência cada vez mais comum de “beber, fazer sexo (muitas vezes sem acordo prévio) e se arrepender no dia seguinte” aumentou de forma considerável nos câmpus dos EUA e acabou gerando projetos que agora estão sendo implementados. Os números americanos são preocupantes. Uma em cada cinco universitárias vai ser vítima de alguma forma de violência sexual e poucas vão denunciar o que aconteceu. Em 80% dos casos, o álcool está envolvido. Para começar a discussão, o próprio conceito do que é consentimento para o sexo é bastante vago. Além disso, homens e mulheres tendem a enxergar esse tema de forma distinta. Uma pesquisa mostra que enquanto 61% dos homens se baseiam na linguagem corporal das garotas para inferir se elas “estão a fim” de fazer sexo, apenas 10% das mulheres dizem que usam a linguagem corporal para dar consentimento para um contato mais íntimo. Na maior parte das vezes, elas dizem esperar que os garotos perguntem se está tudo bem seguir em frente. Será que eles enxergam um “sim” para o sexo onde elas nem imaginam que isso possa estar acontecendo? A questão é complexa. Até onde um “sim” significa que o casal pode ir até o fim? Qual o limite? Será que isso deveria estar claro também? Em que medida alguém que consome álcool está em condições de dar e de receber o consentimento? Para muitos dos programas das universidades, quem bebe (mesmo em pequenas quantidades) não deveria fazer sexo. Mas isso é factível? Será que no Brasil a discussão do consentimento para o sexo teria espaço? Como lidar com o machismo, questões de gênero e com as variações culturais? Garotos e garotas ficariam confortáveis em explicitar o que querem? Como dissociar álcool e sexo? De qualquer forma, políticas públicas que tragam propostas concretas para redução da violência sexual e debates nas universidades, principalmente com os calouros, seriam um excelente começo!
*JAIRO BOUER É PSIQUIATRA