
02 de janeiro de 2011 | 00h00
No primeiro pronunciamento público a presidente Dilma Rousseff reforçou o compromisso de manter o combate à "praga" da inflação e defendeu, de maneira explícita, o modelo econômico de Estado forte, prestador de serviços e indutor de investimentos.
Integrante da ala do governo Lula que sempre atacou o Banco Central quando este elevava as taxas de juros para conter a alta de preços, a presidente Dilma mostrou-se ontem convertida à causa da estabilidade de preços. "Não permitiremos, sob nenhuma hipótese, que esta praga volte a corroer nosso tecido econômico e a castigar as famílias mais pobres", frisou ela no discurso proferido no Congresso.
A inflação baixa é, segundo Dilma, a base da manutenção do crescimento econômico. Preservar o atual ciclo de prosperidade é, por sua vez, a principal ferramenta que ela utilizará, ao lado de "fortes políticas sociais", para atingir seu objetivo principal: a erradicação da miséria. Vai, também, contribuir para transformar o País em "uma das nações mais desenvolvidas e menos desiguais do mundo, um país de classe média sólida e empreendedora".
Estado forte. A presidente, porém, não fez concessões ao que o Banco Central aponta como uma das causas da alta da inflação no País: os elevados gastos do governo. Pelo contrário, defendeu o modelo econômico de Estado forte, prestador de serviços e indutor de investimentos.
"O Brasil optou, ao longo de sua história, por construir um Estado provedor de serviços básicos e de Previdência Social pública. Isso significa custos elevados para toda a sociedade, mas significa também a garantia do alento da aposentadoria para todos e serviços de saúde e educação universais", afirmou. "Portanto, a melhoria dos serviços é também um imperativo de qualificação dos gastos governamentais."
Nos últimos oito anos, o governo foi criticado por aumentar fortemente seus gastos, o que estaria sufocando o setor privado ao exigir a imposição de uma alta carga tributária e diminuindo o potencial de crescimento da economia. Apesar de reconhecer a necessidade de eliminar travas que inibem o dinamismo do setor produtivo e de modernizar e simplificar o sistema tributário, Dilma demonstrou com seu discurso que o tamanho do Estado não está no seu rol de maiores preocupações. A mensagem é de que o foco será melhorar a eficiência do gasto, não reduzi-lo.
Responsável pela organização do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Dilma defendeu o aumento dos investimentos públicos em relação aos gastos de custeio. "O investimento público é essencial como indutor do investimento privado e como instrumento de desenvolvimento regional", ressaltou. "Através do PAC e do Minha Casa, Minha Vida manteremos o investimento sob estrito e cuidadoso acompanhamento da Presidência da República e dos ministérios." Ela citou ainda os investimentos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
A convicção da presidente em relação à inflação controlada deverá ser testada ainda este mês, quando o Comitê de Política Monetária (Copom), formado pela diretoria do BC, se reúne para decidir o novo nível da taxa básica de juros. A expectativa no mercado financeiro é de uma elevação de 0,5 ponto - para 11,25% ao ano. É uma estreia ruim para quem quer encerrar o mandato com taxa de juro real (descontada a inflação) de 2%. Atualmente, a taxa está na casa de 5,5% a 6%.
Câmbio. Dilma foi genérica ao tratar de outro grande problema no front econômico: o câmbio desvalorizado, que enfraquece as exportações e torna o País vulnerável a uma avalanche de produtos importados e de investimentos estrangeiros de curto prazo. Por outro lado, a compra de mercadorias no exterior a preços baixos ajuda a conter a inflação.
Ela disse que o Brasil seguirá defendendo, em fóruns internacionais, a adoção de políticas que protejam o País da "concorrência desleal e do fluxo indiscriminado de capitais especulativos." Prometeu, ainda, combater o protecionismo comercial de países ricos "que sufoca qualquer possibilidade de superação da pobreza de tantas nações pela via do esforço de produção".
CRONOLOGIA
Muita chuva e lágrimas
14h06
Dilma sai da Granja do Torto em direção à Catedral
14h15
Comitiva da presidente chega à Catedral debaixo de muita chuva
14h25
Começa o trajeto no Rolls-Royce presidencial até o Congresso. Por causa da chuva, o percurso tem de ser feito em carro fechado
14h40
Dilma desembarca e é recebida pelo presidente do Senado, José Sarney
14h47
Sarney dá início no Congresso à cerimônia de posse da presidente
14h50
Dilma presta o compromisso constitucional, comprometendo-se a cumprir a Constituição, observar as leis e promover o bem do País. Sarney declara Dilma e Temer empossados
15h07
Dilma inicia seu primeiro discurso como presidente
15h45
"Mulher não é só coragem, é carinho também. É com esse carinho que quero cuidar de todos os brasileiros e que assim tenhamos paz no mundo", diz a presidente ao encerrar seu discurso
16h27
Dilma deixa o Congresso e passa em revista a tropa. No momento, é disparada a tradicional salva de 21 tiros de canhão
16h37
A presidente segue para o Palácio do Planalto no Rolls-Royce junto com sua filha
16h45
Dilma e Temer cumprimentam Lula e Marisa. O presidente ergue as mãos da sucessora e se dirige com ela ao Parlatório
16h48
Marisa retira a faixa presidencial de Lula, que a entrega para Dilma. Os dois se abraçam
16h54
Após a execução do Hino Nacional, Lula deixa o Parlatório para o discurso de Dilma
17h06
"Tenho certeza de que podemos tornar o Brasil um dos melhores países para se viver", diz a presidente ao encerrar o discurso
17h24
Dilma recebe cumprimentos de autoridades estrangeiras - entre elas a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton; o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e seu colega uruguaio, Jose Mojica
17h36
Chorando, Lula se despede de seus ministros e se dirige à multidão, enquanto Dilma dá posse aos ministros de seu governo no Palácio do Planalto
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