Do insalubre Cabeça de Porco nasceu a favela

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Por Redação
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Em meados do século 19, um tipo de moradia começava a se alastrar pelo Rio: os cortiços. Erguidas principalmente por imigrantes portugueses, as construções precárias eram formadas por dezenas de quartos pequenos, sem cozinha, com banheiros e tanques coletivos. "Além das estalagens, houve também a saída da população rica para os arrabaldes de então, como Botafogo, Tijuca. E os casarões deixados por eles no centro foram subdivididos", explica o professor Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, coordenador do Observatório das Metrópoles, grupo que reúne especialistas em temas urbanos. "Essa moradia perdura até o início do século 20, quando tem início o ?bota abaixo? do prefeito Pereira Passos." As demolições comandadas pelo prefeito tinham a intenção de abrir largas avenidas na cidade. Antes mesmo da administração Pereira Passos, o primeiro grande cortiço a ser demolido foi o Cabeça de Porco, em 1893, que acabou por virar sinônimo desse tipo de moradia e inspirou o escritor Aluízio de Azevedo em O Cortiço - no livro, de 1890, havia o "Cabeça de Gato". Quatro mil pessoas chegaram a viver no Cabeça de Porco. Um ano antes de ser destruído, uma ala inteira estava interditada por conta das condições insalubres, segundo relato da arquiteta Jane Santucci em seu livro Cidade Rebelde - As Revoltas Populares do Rio de Janeiro no Início do Século XX. Ela conta que o desmonte do grande cortiço é apontado como semente das favelas. Sem ter para onde ir, os inquilinos foram autorizados a retirar a madeira dos cômodos para construir outra moradia. E uma das proprietárias do Cabeça de Porco era dona de lotes no Morro da Favella, hoje Morro da Providência. Ela negociou os terrenos com os antigos moradores. A ocupação se expandiu em 1897, com o retorno dos combatentes da Guerra de Canudos, que ali se instalaram.

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