Documentos sobre agentes somem de presídio em Campinas

Arquivo sumiu durante a megarrebelião que atingiu os presídios em maio

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Um fichário contendo nome, endereço, telefone e fotografia de agentes penitenciários que trabalham no Complexo Campinas Hortolândia desapareceu do presídio. "Estamos temerosos", afirmou o representante da região de Campinas do Sindicato dos Funcionários dos Estabelecimentos Penitenciários, João Rinaldo Machado. Segundo Machado, o arquivo sumiu durante a megarrebelião que atingiu os presídios em maio. "Os presos conseguiram acessar a área administrativa e devem ter levado esses documentos", disse. Entre as fichas também está a escala de trabalho dos plantonistas de final de semana. Machado afirma que os agentes vêm recebendo ameaças. "Os próprios presos falam diretamente, ou através de outros que mandam recados". O Complexo Campinas Hortolândia abriga cerca de 7 mil detentos em seis unidades onde atuam mil agentes penitenciários. Tiros Dois agentes penitenciários que atuam no Complexo Campinas Hortolândia conseguiram escapar de tiros disparados por desconhecidos. O primeiro caso aconteceu na noite de sábado em Campinas, na vila Padre Anchieta, quando um agente chegava em casa em sua motocicleta. Ele desconfiou da presença de dois homens, também em uma moto que estavam estacionados nas proximidades. O agente saiu em alta velocidade e foi perseguido. A dupla efetuou vários disparos mas não conseguiu atingir o agente. Outro agente penitenciário, morador em Hortolândia, também escapou ileso na manhã de hoje quando dois homens fizeram vários disparos em sua direção. Atentados A morte do quarto agente penitenciário em menos de cinco dias, no Estado de São Paulo, deixou em alerta a categoria, que critica o governo pela falta de uma ação direta para evitar os ataques e iniciou uma nova paralisação nesta segunda-feira, 3. Por enquanto, os agentes estão cumprindo as paralisações por 24 horas para cada colega morto. A orientação é de que eles mantenham apenas as atividades de alimentação e de atendimento de emergências. "Infelizmente, é a quarta vez que paramos desde a semana passada", lamentou o secretário geral do Sindasp Rozalvo José da Silva. "Estamos fazendo a paralisação para não morrer", disse. De acordo com levantamento parcial do Sindasp, às 12 horas desta segunda-feira, 3, a paralisação em protesto contra os assassinatos de agentes atingia cerca de 50% das 144 unidades prisionais do Estado. A adesão, segundo Silva, é maior no oeste paulista, onde 17 das 19 penitenciárias tinham aderido à greve. Para o Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional (Sifuspesp), a greve atinge cerca de 30 unidades. Os agentes têm sito orientados pelo Sindasp a não ficarem nas proximidades dos presídios quando não estiverem trabalhando. "Se nada for feito, nós vamos parar por falta de condições mínimas de trabalho. Precisamos de garantia da vida", disse Silva. "Não tem saída. Estamos parando para não continuar morrendo". Mortes Na noite deste domingo, 2, Otacílio do Couto, de 40 anos, que trabalhava no Centro de Detenção Provisória II do Belém, zona leste da capital, foi assassinado a caminho do serviço. Ele foi atacado enquanto conversava em um telefone público na região do Jaçanã, por volta das 20 horas. Mesmo levado ao pronto-socorro do Hospital São Luiz Gonzaga, no mesmo bairro, Otacílio não resistiu. Um outro ataque foi registrado neste domingo. O agente penitenciário Joselito Francisco da Silva foi alvo de atiradores por volta das 21 horas na cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo. O veículo de Silva - que trabalha no CDP de Guarulhos - foi atingido por vários tiros. O agente, no entanto, saiu ileso e decidiu não registrar a ocorrência. Na manhã do último sábado, o agente penitenciário Eduardo Rodrigues, de 41 anos, foi assassinado a tiros por dois criminosos no bairro Jardim Arpoador, zona oeste da capital paulista. Ele levou quatro tiros à queima roupa dentro de uma loja, onde havia levado sua TV para consertar. Na última quinta-feira, o carcereiro Gilmar Francisco da Silva, de 40 anos, foi assassinado com sete tiros em frente a sua casa, no Jaraguá, zona oeste da capital. Segundo seus parentes, há quatro meses o agente penitenciário, que trabalhava no Cadeião Feminino de Pinheiros, vinha recebendo ameaças constantes de seus vizinhos devido a uma discussão com um grupo de usuários de drogas que viviam em sua rua. A Polícia Civil acredita que o PCC não esteja por trás de sua morte. Um dia antes, o carcereiro Nilton Celestino, de 41 anos, foi executado com dez tiros por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele trabalhava no Centro de Detenção Provisória de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. Além dos quatro agentes mortos até o momento, outros nove foram mortos durante os ataques promovidos pelo PCC em maio.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.