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Dona de casa enterra marido no quintal

Em Blumenau, corpo de operador está a 40 cm da superfície, em caixão improvisado, à espera de socorro

Por Rafael Waltrick e Agência RBS
Atualização:

Centenas de famílias esperam pelos resgates. Há informações desencontradas sobre desaparecidos e mortos, sobretudo em áreas soterradas. Muitos temem encontrar parentes, outros estão resignados e só esperam a identificação de corpos para preparar velório e enterro. Mas sepulcro é algo que nem todos terão. A dona de casa Claudete de Fátima Cypriano, de 42 anos, teve de tomar uma dolorosa decisão: com enxada, pá e a ajuda da filha Edelaine, de 17, ela sepultou o corpo do marido, encontrado a 3 quilômetros de onde foi arrastado pela enxurrada que atingiu o Bairro Progresso, em Blumenau, no fim de semana. A poucos metros da casa, o monte de terra coberto por lona preta esconde o cadáver de Edenilson Cypriano, de 42 anos, pai de três filhos. "Eu não achava justo, mas não tinha outro jeito. Meu marido morreu e agora está enterrado aqui, no quintal", lamentou a dona de casa. O corpo de Cypriano fica só a 40 centímetros da superfície, envolto em um saco do Exército, num caixão de madeira feito às pressas. Isoladas do restante da cidade pelos deslizamentos, Claudete e a mãe, Carmen Assink, aguardam os bombeiros ou o Exército para providenciar um enterro digno para o operador têxtil. Foram os militares que encontraram o corpo, segundo a família, que orientaram o enterro improvisado até o socorro chegar. Os esforços estão concentrados na retirada de feridos e de pessoas isoladas. A espera é agonizante. Acompanhada da filha, Claudete não consegue desviar o olhar da terra onde o marido está, coberto por grama e brita. A dor se torna maior a cada minuto, com a falta de informações sobre familiares e amigos em outros pontos da cidade. "Só queria levar Edenilson pra Joinville, a terra natal dele. Só isso", diz Claudete. Cypriano morreu após cair nas águas que correm atrás da casa da sogra. Domingo, às 16h30, foi até a beira do ribeirão para, com um machadinha, tentar cortar uma pequena árvore que havia se enroscado na fiação elétrica. Acabou escorregando e caiu no rio, desaparecendo em segundos. A cena ainda é lembrada em detalhes pela família, que dorme, come e chora a poucos metros do cadáver. "A gente está sofrendo cada vez mais, está muito difícil", afirma Carmen. NO CAMINHÃO-FRIGORÍFICO Em Gaspar, um caminhão-frigorífico fica estacionado na Rua Barão do Rio Branco, na frente da Câmara Mortuária Bom Pastor, no Bairro Santa Terezinha. O local, na frente do Cemitério Municipal, está isolado por policiais civis desde anteontem. Há controle de passagem de moradores. O veículo recebe os cadáveres que ficam à espera de parentes para identificação. Um médico-legista acompanha a chegada dos corpos e emite o laudo cadavérico.

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