Drama dos seqüestrados se repete em São Paulo

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Por Agencia Estado
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As histórias se repetem. Crianças vêem os pais sendo espancados no cativeiro. Jovens e idosos viram vítimas da violência. Muitas vezes drogados, os bandidos deixam os seqüestrados em buracos e ameaçam enterrá-los, se o resgate não for pago. A revolta marca a vida dessas pessoas e de seus parentes. Indignada, D.F. relata os momentos difíceis vividos por seu pai, um empresário de 61 anos, no mês passado. Ele foi vítima de um seqüestro relâmpago e ficou sete horas em poder dos bandidos. O empresário foi abordado quando passava em seu Toyota Corola perto da Fundação Oscar Americano, no Morumbi, em direção ao trabalho. "Dois homens armados dominaram meu pai. Um deles saiu dirigindo o carro com ele ao lado. O outro guiava o Vectra." Numa rua sem movimento, os bandidos pegaram os cartões do empresário, que teve de assinar três cheques. O empresário foi trancado no porta-malas do Vectra e levado a um motel. No quarto, ficou esperando a chegada do criminoso que fora sacar o dinheiro e descontar os cheques. Algumas horas depois, foi levado para São Caetano e deixado do lado de seu Toyota. O bando ficou com R$ 4 mil. D. disse que a polícia deveria ter "protocolo de ação" e dar apoio à família das vítimas. "A impressão que ficou é que, nos seqüestros, a polícia fica só esperando pela solução." Algumas pessoas seqüestradas mudaram seus hábitos. Deixam os carros na garagem e passam a usar táxi. Deixam de ir a festas e restaurantes. A bancária L.I., de 32 anos, foi seqüestrada em agosto, no Jabaquara, zona sul, a caminho do trabalho. Ela não sai mais sozinha e vai mudar-se para Santa Catarina. "Não paro de pensar nos oito dias que passei amarrada no barraco." Ela explicou que um seqüestrador vivia drogado. "Dizia que, se não recebesse o dinheiro, o grupo me violentaria antes de me matar." A família pagou R$ 20 mil. Já o empresário José Paulo da Silva garantiu ter nascido de novo ao ser resgatado pela polícia, nove dias depois. Ele foi espancado e ficou parte do tempo em um buraco cavado num sítio em Sorocaba. O seqüestro de estudantes está preocupando a polícia. Alguns pais pagam o resgate e não comunicam o crime à Divisão Anti-Seqüestro (Deas). Em julho, um aluno do Colégio São Luís, de 15 anos, foi abordado num ponto da Avenida Paulista. Ele acabou sendo conduzido de ônibus até a Barra Funda e de trem até Francisco Morato. A família pagou o resgate. Três meses depois, em 26 de outubro, o universitário D.R.P. foi levado da mesma forma e quase no mesmo local. Ele ficou oito dias preso, e sua família também pagou resgate. Mas desta vez a história teve fim diferente. D.R.P. mostrou o cativeiro, em Francisco Morato, para homens da Deas. Duas pessoas foram presas. A polícia investiga a relação entre os casos.

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