Duas semanas após ação, crianças e jovens já perambulam por ''cracolândia''

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Por Clarissa Thomé
Atualização:

Quinze dias depois de uma operação que resultou no recolhimento de 47 crianças e adolescentes na "cracolândia" do Jacarezinho, favela onde o tráfico é dominado pelo Comando Vermelho e tem cerca de 30 mil moradores, na zona norte do Rio, o Estado voltou ao local. Na tarde de quinta-feira, feriado estadual de São Jorge, encontrou 12 meninos dormindo amontoados junto a uma lixeira. Outros perambulavam pelas ruas, pedindo dinheiro. A volta de crianças e adolescentes à cracolândia já havia sido detectada pelo secretário de Assistência Social, Fernando William. "Estive lá há poucos dias. Vi a imagem do holocausto. Eram 40 meninos amontoados, uns dormindo por cima dos outros", disse. Por causa das ações da Secretaria de Ordem Pública nas cracolândias, William disse que já há uma mudança de comportamento dos viciados. As crianças e adolescentes passaram a ficar na parte interna das favelas, depois das bocas. "Antes víamos muitos meninos de rua em locais como o Passeio Público ou a Praça Paris. Chegam a elogiar que estamos trabalhando bem, recolhendo os meninos. Mas, como nesses locais a venda de crack não acontece mais, eles pararam de frequentar essas praças e estão no interior das favelas", contou o secretário William. A secretaria mapeou 20 regiões da cidade que concentram cem pontos de exploração sexual infantil e juvenil. Esses locais estão próximos de bocas de venda de crack. Esses pontos serão alvo de operações a serem programadas pelo Comitê de Combate ao Crack, criado pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB) na sexta-feira. Fernando William disse que também houve uma mudança na estratégia de atuação na secretaria. A ordem agora é fechar as portas dos abrigos e intensificar a vigilância para que crianças e adolescentes não saiam. A medida conta com o apoio da promotora da Infância e Juventude, Karina Fleury. "O abrigo é uma entidade de proteção, não é de privação de liberdade. A criança não tem o direito de escolher sair do abrigo e ir para as ruas se drogar", diz o secretário. De acordo com William, um acordo com o Metrô Rio permitirá que uma casa no Estácio, na zona norte, seja reformada para a criação de um abrigo somente para as adolescentes, nos moldes da Casa Viva.

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