‘Ele não quer ir para escola, porque diz que lá tem fogo’, conta mãe de sobrevivente

Pedro Dias, de 2 anos, foi socorrido após o incêndio e teve alta. Agora, não quer voltar para a creche, conta a mãe

PUBLICIDADE

Por Felipe Resk
Atualização:

JANAÚBA - Com apenas 2 anos e 5 meses, o pequeno Pedro Lucas Dias ainda está aprendendo a falar e, por isso, conhece poucas palavras. Desde que recebeu alta do hospital em Janaúba, no sábado, 7, no entanto, ele não para de repetir a seguinte frase: "Escola não, mamãe, lá tem fogo. Não fui eu, não."

Quem conta é a mãe da criança, Amanda Carolina Dias, que, muito jovem  (ela tem 16 anos), estava no colégio na hora do incêndio na creche Gente Inocente. "Minhas colegas falaram que a creche pegou fogo, eu pensei que tinha sido na cozinha do lado da sala dele. Fiquei com medo."

Wilson Ribeiro, de 27 anos,só encontrou a filha Ingrid, de 1 ano e 2 meses, no hospital; a menina foi uma das sobreviventes da tragédia em MG. Foto: Tiago Queiroz / Estadão

PUBLICIDADE

Ao chegar no local, Amanda não encontrou o filho, que já havia sido socorrido. A cena, descreve, era de tragédia: com muita correria, crianças e adultos machucados, policias bloqueando a passagem e equipes de resgate transportando as vítimas.

"Alguém conseguiu tirar meu filho de lá de dentro, Graças a Deus", diz a estudante. Segundo a mãe, o menino viu uma das coleguinhas da creche com os braços em chamas e, desde então, não consegue esquecer a cena. "Ele fica falando que não quer ir para a escola, porque lá tem fogo."

Com quadro estável, Pedro Lucas não precisou ser transferido para hospitais maiores e permaneceu internado na cidade. "Já rezei muito, agradecendo. Se o fogo se espalha mais rápido, não sei o que ia ser..."

No dia da tragédia, quinta-feira, 4, a pequena Ingrid Ribeiro completou 1 ano e 4 meses. Mesmo no berçário, que não foi atingido pelo fogo, a menininha inalou fumaça e ficou internada. "Uma criancinha dessa, que nem fala e nem anda... Ela viveu de novo", diz o pai, o atendente Wilson Ribeiro, de 27 anos.

"Eu imaginei um fogo simples. Quando eu vi o tamanho do estrago, cê tá doido", conta o pai, que estava trabalhando no supermercado quando recebeu a notícia. "O maior susto foi não ter encontrado ela quando cheguei na creche. Pensei que tinha falecido."

Publicidade

O desespero de Ribeiro só passou depois que a família conseguiu localizar a menina no Hospital Regional de Janaúba. "Foi um alívio quando o médico falou que ela não tinha queimadura."

Filha única, Ingrid agora não desgruda do pai, que a levou para passear de bicicleta na cidade. "Eu já era apegado. Agora, depois desse susto, cê tá doido."

Alívio. Apesar do luto pela tragédia, a dona de casa Elizete Fernandes Vasconcelos, de 41 anos, estava aliviada. Mãe dos gêmeos Raíssa e Raí, de 4 anos, ela mudou os filhos de creche no início deste ano. 

"Eles estudavam na Gente Inocente, mas choravam muito", diz a dona de casa. "Eram da sala dos outros menininhos que morreram. Só tenho rezado, agradecendo muito, por ter trocado de escola."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.