‘Ele queria fazer faculdade. Tinha a vida pela frente’

Mãe que perdeu filho caçula em acidente de moto agora teme pelo primogênito; metalúrgico passou por nove cirurgias

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Por Julia Marques
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2 min de leitura

Em uma caixa de papelão, Ana Rosa Antunes, de 54 anos, ainda encontra cópias de currículos que o filho caçula não teve tempo de enviar. “Ele ia fazer Enem, queria fazer faculdade. Tinha saúde e a vida pela frente”, diz a auxiliar de limpeza. Os planos de Erick Antunes foram interrompidos por um acidente em novembro do ano passado. 

O jovem, de 25 anos, foi lançado da moto que pilotava quando um carro virou à esquerda, sem dar seta, em uma avenida na zona leste de São Paulo. O motorista fugiu. Antunes teve lesões no tórax e na cabeça e morreu no hospital.

Ana Rosa Antunes com foto do filho, morto aos 25. Foto: Tiago Queiroz / Estadão

A mãe conta que o jovem levou quatro anos para comprar a moto à vista, um sonho desde a adolescência. Mas a usou por apenas quatro meses. Tirava a moto da garagem só para passear e, durante a semana, ia de ônibus ao trabalho – fazia manutenção de ar-condicionado. 

Desde quando viu o filho pela última vez, Ana Rosa perdeu o sossego. “Não tem dia que eu passe sem lembrar”, diz ela, que agora teme pelo primogênito, também motociclista. “Ouço falar de acidente e a pressão sobe. Marca muito perder um filho.”

O metalúrgico Mauro Santos, de 37 anos, teve mais sorte. Sobreviveu por pouco a uma batida, mas se movimenta com um andador, precisa da mulher para tarefas simples e não tem previsão de voltar à ativa. 

No caminho para o trabalho, em janeiro, um carro o derrubou da moto na Radial Leste. Santos teve quatro paradas cardíacas, fraturou o fêmur, quebrou dedos das mãos e lesionou o pescoço e o joelho. “Disseram que apareci do nada, mas faltou a motorista olhar o retrovisor.”

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Depois de nove cirurgias, ele finalmente está em casa com a mulher e os dois filhos, de 5 e 18 anos, mas viu a renda da família cair sem poder fazer nada além da fisioterapia. “Minha perna não obedece. Não tenho como trabalhar. São férias forçadas.”

Em nota, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes informou queda no total de vítimas na capital paulista no último ano e disse priorizar medidas para reduzir acidentes. 

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