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Eles contam que perderam o voo por força do acaso

Por Pedro Dantas
Atualização:

Para a família e os amigos, foi a "providência divina" que salvou João Marcelo Martins Calaça. Para ele, foi apenas uma coincidência o fato de seu passaporte ter vencido - o que o impediu de embarcar no voo AF 447. Calaça, um analista judiciário de 37 anos, só percebeu que não poderia viajar duas horas e meia antes do horário de embarque, ao checar a validade do documento. Telefonou para o agente de viagem, que confirmou que o passeio pela Europa teria mesmo de ser adiado. Ontem, ao acordar, seu telefone celular indicava 25 chamadas perdidas. Eram os amigos, desesperados por notícias. "Foi um erro bobo que salvou minha vida e do meu amigo, que viajaria comigo. É estranho falar isso agora, mas eu não estava com uma boa intuição", contou Calaça ontem. "Quando vi as 25 chamadas, pensei na hora que poderia ter acontecido alguma coisa com o voo. Liguei a TV e senti um calafrio. Acho que a ficha ainda não caiu." Ele passou o dia dando entrevistas. Tantas que teve uma queda de pressão. Mas Calaça não se deixou abater: à tarde mesmo, já estava num posto da Polícia Federal para renovar o passaporte. Pretende viajar assim que o documento estiver pronto, com o amigo norte-americano que o acompanharia no voo da Air France, mas desistiu por preferir deixar para ir com Calaça. "Sou espírita e a conclusão que tiro é de que existe uma força maior que determina esse tipo de coisa", contou Tânia Calaça, irmã do analista judiciário. Já o amigo Luiz Alberto Miranda acha que foi São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, quem protegeu o amigo. "Sou devoto e pedi a São Sebastião para guardar meu amigo. Acho que foi uma intervenção do santo." ALÍVIO O abatimento dos parentes dos passageiros do voo AF 447 da Air France contrastava com o alívio do funcionário público Bernardo Ciriaco. Segundo ele, o irmão escapou por pouco de embarcar na aeronave. "Passei algumas horas sem saber se ele havia embarcado no voo das 16 ou no das 19 horas, que se encontra desaparecido. Logo que chegou a Paris, meu irmão ligou do aeroporto para avisar à família que havia embarcado no voo anterior. Ele contou que brigou para embarcar, pois a companhia queria transferi-lo para o voo seguinte", contou Bernardo. Já o fotógrafo Fabrizio Andrea, 34 anos, não embarcou por acaso. Ele mora em Curitiba, mas namora uma francesa. Como não há voo direto, o caminho seria via Rio ou São Paulo. Ontem, ele agradecia por estar em Cumbica aguardando o embarque. "Estava com a reserva feita, mas minha mãe não quis que eu fosse até o Rio. Hoje ela me acordou para me mostrar o acidente pela televisão. Ela é meu anjo da guarda." Um casal francês escapou porque o avião estava lotado. Após participar de um congresso médico em Brasília, o professor francês Claude Jaffiol e sua mulher, Amina, fizeram tudo o que podiam para embarcar no voo 447. Sem sucesso. "É um milagre. Estávamos em Brasília e decidimos encurtar nossa estada e voltar a Montpellier, no sul da França. Deveríamos estar naquele avião", contou ele ontem no Rio. "Tivemos uma sorte inusitada", completou Amina. COM AFP

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