Em Caruaru, Lula diz que "democracia não é só coisa limpa"

Lula aproveitou o evento para defender Humberto Costa e Eduardo Campos de acusações de corrupção

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Por Agencia Estado
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"Democracia não é só coisa limpa não". A frase foi dita na noite desta terça-feira, 5, em comício, em Caruaru, no agreste pernambucano, pelo presidente candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lula se referia aos ataques e acusações que vêm sofrendo ele próprio e os seus ex-ministros Humberto Costa, da Saúde, e Eduardo Campos, da Ciência e Tecnologia, ambos candidatos ao governo do Estado. Em apoio a Costa, indiciado pela Polícia Federal na investigação que apura esquema de superfaturamento de produtos hemoderivados, chamada Operação Vampiro, confundiu-se, chamando de "sanguessuga" (a investigação de superfaturamento de ambulâncias). "Sou testemunha de que esse companheiro (apontando para Humberto Costa ao seu lado direito) mandou carta a Polícia Federal pedindo para investigar o "sanguessuga", afirmou, tranqüilizando-o. "Não se preocupe, você vai ter o tempo necessário para poder provar a lisura do seu comportamento". "De qualquer forma - continuou o presidente - isto também faz parte da democracia. Democracia não é só coisa limpa não. Democracia às vezes tem dessas coisas que nos causam preocupação, que nos causam desgosto, mas nós temos que saber enfrentar porque vamos derrotá-los não é batendo boca com eles não. É na urna que vamos derrotar os nossos detratores". O presidente observou que se fosse acusado, por exemplo, pelo presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) - que promoveu o evento - Manoel "Serra" (confundindo-se mais um vez, o nome é Manoel dos Santos), um trabalhador, estaria preocupado. "Mas quem está na tribuna do Senado e da Câmara me acusando não merece que eu perca o meu tempo, não merece". Durante o comício, Lula elogiou os militantes das candidaturas de Costa e Campos, que empatados tecnicamente nas pesquisas de opinião disputam uma vaga no segundo turno com o governador-candidato Mendonça Filho (PFL), apoiado pelo ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Eles dividiram o palanque com Lula e têm evitado acusações entre si. "Humberto e Eduardo estão separados porque a legislação eleitoral tem uma coisa chamada cláusula de barreira que impede que os partidos estejam juntos", explicou. Mas logo essa seleção vai estar junta e vamos enfrentar nossos adversários", destacou, ao dizer que depois de primeiro de outubro, vai voltar a Pernambuco para apoiar o que tiver chegado ao segundo turno. Sem deixar de se gabar por entender a alma do povo e por ser o primeiro presidente da história do Brasil que qualquer trabalhador pode chamar de "companheiro", Lula frisou que em uma campanha política tem gente que faz campanha séria e gente que faz campanha de forma rasteira. "Tem gente que faz campanha fazendo um papel imprestável do ponto de vista da formação da sociedade brasileira", disse sem citar nomes e ao exemplificar com campanhas enfrentadas pelo ex-ministro Marcos Freire (PMDB) pelo ex-governador Miguel Arraes (PSB) e afora pelos "meninos" Humberto Costa e Eduardo Campos. "Eu mesmo já fui acusado muitas vezes", complementou ao citar conselho da mãe, que dizia "meu filho, cautela e caldo de galinha só ajuda as pessoas que têm calma". Contou que viu Miguel Arraes chorar por acusações que disse não merecer. "Eu hoje sei porque senti na pele, mas como cristão, acho que Deus escreve certo por linhas tortas e a verdade virá à tona", afirmou. "O povo é mais inteligente do que a classe política e vai dando resposta a cada dia, por isso, Humberto, não se deixe perturbar pelas acusações". Ele alertou que nos poucos dias que restam de campanha o desespero dos adversários pode aumentar. "Eles poderão ser mais agressivos e nós temos que aceitar o embate político. Mas nós não podemos levar desaforo para casa, não podemos aceitar o baixo nível da campanha que eles estão fazendo". Defendeu comportamento democrático, sem "o jogo baixo que eles estão fazendo" e pregou a união entre os partidos e candidatos aliados. Esbanjando bom humor e confiança, não deixou de dar uma estocada na imprensa. A um eleitor em meio à multidão, que citava programas que o presidente não falou ao desfiar as ações do governo federal, disse: "aquele rapaz de camisa verde anda lendo mais coisa do governo que eu, mas certamente não está lendo pela imprensa", disse. "Senão não ia saber tudo. Tem muita coisa acontecendo neste país". E disse porque quer mais quatro anos de governo: "temos que provar que esse País não nasceu para ser pobre, não nasceu para ser miserável e o povo do Nordeste não nasceu para ser sofrido". Ao descobrir uma alemã, uma inglesa e uma japonesa no comício, fez mais uma brincadeira: "Quando é que Caruaru já viu um comício internacional?"

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