Em favela do Rio, PM apreende arma capaz de derrubar avião

Escopeta de calibre .50 pode penetrar blindagem de carros e aeronaves; Bope ocupa Vila Cruzeiro há 8 dias

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Por Pedro Dantas e RIO
Atualização:

No oitavo dia de operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na favela da Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte, homens do 16º Batalhão de Polícia Militar (BPM) apreenderam uma arma de fabricação caseira adaptada de uma escopeta para receber munição .50, capaz de penetrar blindagens de carros e derrubar aeronaves de combate. "Recebemos uma denúncia sobre um paiol, e fui, com dez homens, verificar o local. Encontramos três homens na laje da casa, que resistiram, mas acabaram fugindo e deixando o armamento para trás", contou o tenente Fábio Lecim. Desde o início da operação, 15 pessoas morreram e 14 criminosos foram presos. Apesar de o Bope ter hasteado sua bandeira (preta, com o símbolo da caveira) no ponto mais alto da favela, o tenente reconheceu que o Complexo da Penha, vizinho ao Complexo do Alemão, não está dominado. "A situação está mais fácil, porque era impossível chegarmos antes onde a arma foi apreendida. No entanto, encontramos marginais na contenção e resistência. Nosso objetivo e orientação é o domínio total da área." Com o apoio de PMs do 16º, cerca de cem homens do Bope ocupam pontos da favela. Vinte ficam no posto avançado, montado na sede do Grupamento de Policiamento para Áreas Especiais (Gpae), e 80 patrulham a favela. Apesar de quase todas as barricadas dos traficantes terem sido removidas, o entulho não foi retirado das ruas estreitas. A luz ainda não foi restabelecida em toda a comunidade. O poderio bélico dos traficantes provocou dois incidentes no tráfego aéreo. Em julho passado, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) foi atingido com um tiro de fuzil, o que forçou a FAB a recomendar aos pilotos a altura de 1.500 pés ao sobrevoar a região. Em outubro, um helicóptero da FAB foi alvejado. O tiro danificou o painel de controle e forçou o pouso imediato. Escutas mostraram que os traficantes comemoraram. Policiais do 14º BPM de Bangu retiraram 60 barricadas de cimento montadas por traficantes na Favela do Muquiço, em Guadalupe, zona oeste. Foram encontrados um fuzil calibre 7.62, 166 trouxas de maconha e quatro radiotransmissores. ONGs devem divulgar nos próximos dias um documento com críticas à operação na Vila Cruzeiro e condenando as declarações do coronel da PM Marcus Jardim, do 1º Comando de Área da Capital, que disse, na semana passada, após as mortes e prisões na favela que a "PM é o melhor inseticida social". "Não sentimos nenhuma mudança no tom da política de segurança pública. A lógica continua sendo a do confronto e da criminalização da pobreza", disse a coordenadora da ONG Observatório das Favelas, Raquel Willadino.

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