Em novo depoimento, Christian confessa ter matado Marísia

"Fui eu que fiz e assumo a minha parte", disse Christian, dois dias depois de dizer que não participou da morte do casal Richthofen

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Por Agencia Estado
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"Fui eu que fiz e assumo a minha parte. Peço perdão para dona Marísia e até para Suzane". Foi o que disse Christian Cravinhos, na noite desta quarta-feira, 19, após pedir para dar um novo depoimento, dois dias depois de ter sido interrogado e dizer que não participou da morte do casal Richthofen. Junto com seu irmão Daniel e a ex-namorada dele, Suzane von Richthofen, Christian está sendo julgado pelo assassinato dos pais dela, Manfred e Marísia. Frente a frente com os jurados, Christian falou durante 40 minutos e disse que tentou convencer Suzane a não levar adiante o plano de matar o casal. Ele disse ter aconselhado a jovem a chamar a polícia para denunciar os supostos abusos que sofria do pai, já que esse seria o motivo para ela querer matá-los. Apesar de ter admitido que mentiu, o depoimento desesperado provocou comoção. Chorando copiosamente, Christian se culpou por não ter conseguido evitar a tragédia. Ele disse ter falado para Daniel, quando se dirigiam do cybercafé para a casa dos Richthofen, que havia tempo de desistir do crime, mas que o irmão estava "em outro mundo". "Parecia o dia mais feliz da vida dela (Suzane)", afirmou, sobre o dia do crime. Ele disse que, na garagem, ao ver as armas do crime, perguntou à jovem se ela achava justo matar quem a pôs no mundo de forma tão cruel. "Não sei se é justo, mas enquanto não sepultá-los, não serei uma pessoa feliz", teria respondido Suzane. Christian pediu ao juiz Alberto Anderson Filho que ela permanecesse no plenário, mas ele não concordou. Segundo Christian, depois de Suzane fazer um sinal positivo, ele e o irmão entraram no quarto do casal. Muito emocionado, e se dizendo arrependido, o réu disse ter tentado fazer sinal para o irmão, mas que "ele deu a primeira, eu sem saber o que fazer, também fiz". "Só hoje percebo o que fiz, talvez os pais de Suzane não fossem tão ruins, e não merecessem ser mortos", disse Christian. Christian disse ainda que Suzane revelou que os pais tinham um casamento de fachada, pois Marísia era lésbica e Manfred tinha uma amante, além de violentar ela e o irmão, Andreas. No dia do crime, Daniel chegou "tomado" na casa dele pedindo ajuda porque a jovem queria matar os pais, disse Christian. "Eu amo muito a Suzane, não quero perdê-la". O rapaz declarou que tentou dissuadi-lo, mas acabou acompanhando Daniel por amor a ele. Ele disse que Daniel era totalmente subjugado por Suzane. "Meu irmão foi um menino que cresceu com carinho e amor gigante. Nunca teve maldade. Eu não sei que poder é esse (que ela tem sobre ele)." Christian também assumiu ter colocado uma toalha sobre o rosto de Marísia. Mas, segundo ele, não foi para asfixiá-la, e sim para proteger Andreas, que considerava um irmão caçula. Quando foi interrogado na segunda-feira, 17, Christian disse não ter ajudado Daniel a agredir o casal Richthofen. Em seu depoimento, ele disse ter assumido a culpa para proteger o irmão mais novo, pensando que, assim, ele teria a pena diminuída. Daniel, em seu interrogatório, eximiu o irmão de culpa, dizendo que ele assassinou os pais da então namorada sozinho. "Fui para cima do Manfred e depois da doutora Marísia. Quando me virei meu irmão estava em estado de choque, ele passou mal e parou ao lado da janela", disse Daniel. Após o relato emocionado de Christian, após o qual ele abraçou o pai, Astrogildo, o julgamento foi suspenso e será retomado nesta quinta-feira, 20. Espera-se que o julgamento seja encerrado amanhã, quando o dia será reservado para as argumentações finais das defesas e da acusação. Sem valor Ao final da sessão desta quarta-feira, 19, após ser oficialmente descartada a acareação entre Suzane e Daniel, o promotor Roberto Tardelli disse que, juridicamente, a nova declaração de Christian não tem valor nenhum. "Novelisticamente, poderíamos imaginar outra situação, um personagem não tão ruim, um pitbull que não morde tão forte", disse Tardelli, ressaltando que, com a nova versão, Christian volta à condição de réu confesso. Tardelli comentou que é possível que o depoimento da perita criminal Jane Marisa Belucci tenha contribuído para a mudança da versão de Christian. "O depoimento da perita criminal sepulta a versão imprudente dele". Jane disse que não seria possível apenas uma pessoa ter cometido o crime. "Seria impossível alguém bater no Manfred, esticar o braço ou dar a volta na cama e bater na Marísia", disse ela. Agente penitenciária sai em defesa de Suzane Antes do novo depoimento de Christian, a defesa de Suzane dispensou sua última testemunha e anunciou que a jovem havia desistido da herança da família. O juiz, porém, não incluiu a decisão nos autos do processo, pois o documento ainda não foi homologado. Antes disso, foi ouvido o depoimento da agente penitenciária Marissol Nunes Ortega, que saiu em defesa de Suzane. Ela disse que a jovem nunca mente. "Suzane não mente nunca, mesmo quando sairá prejudica", disse a testemunha. Promotores e a defesa dos Cravinhos protestaram, dizendo que Mauro Nacif, advogado de Suzane, estava induzindo Marisol a dar respostas. Após o depoimento, de uma hora, Suzane deu um abraço emocionado em Marisol, que sorriu, ao abraçá-la envolvendo-a com os braços algemados. Crime Suzane, Daniel e Christian confessaram ter planejado e matado os pais dela, Marísia e Manfred von Richthofen, a golpes de barra de ferro, na casa em que a família vivia, em outubro de 2002. Os três foram denunciados pelo Ministério Público por crime de duplo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa das vítimas. Alterada em 21 de julho, para correção de erros de digitação

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