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Em Paris, Lula dá conselhos e critica 'geração de líderes'

Agraciado com título do Sciences-Po, petista diz que políticos devem 'assumir as rédeas' da crise na União Europeia

Por ANDREI NETTO , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma recepção de pop star ontem, em Paris, durante a cerimônia de entrega do título de doutor honoris causa pelo Instituto de Estudos Políticos (Sciences-Po), o maior da França. Em seu discurso, o ex-chefe de Estado enalteceu o próprio mandato e multiplicou os conselhos aos líderes políticos da Europa, que atravessa uma forte crise econômica. Antes, durante e depois, Lula foi ovacionado por estudantes brasileiros. A cerimônia foi realizada no auditório do instituto, com a presença de acadêmicos franceses e de quatro ex-ministros de seu governo: José Dirceu, Luiz Dulci, Márcio Thomaz Bastos e Carlos Lupi. Vestido de toga, o ex-presidente chegou à sala acompanhado de uma batucada promovida por estudantes. Ao entrar no auditório, foi aplaudido em pé aos gritos de "Olé, Lula". Em seguida, tornou-se o primeiro latino-americano a receber o título, já concedido a líderes políticos como o checo Vaclav Havel. Em seu discurso, o diretor do instituto, Richard Descoings, se disse "entusiasta" das conquistas obtidas pelo Brasil no mandato do petista. "O senhor lutou para que o Brasil alcançasse um novo patamar internacional", disse. "Não é mais possível tratar de um assunto global sem que as autoridades brasileiras sejam consultadas." Conselhos. O economista Jean-Claude Casanova, responsável pelo discurso em homenagem ao novo doutor, lamentou que a Europa não tenha um líder "de trajetória política tão iluminada". Casanova pediu ainda que Lula aproveitasse "sua viagem para dar conselhos aos europeus" sobre gestão de dívida, déficit e crescimento econômico. Em um discurso de 40 minutos, Lula falou de avanços de seu governo, citando a criação de empregos, a redução da miséria e o aumento do salário mínimo e a criação do Bolsa Família, além de elogiar sua sucessora, Dilma Rousseff. Lançou-se, então, aos conselhos. Primeiro, criticou "uma geração de líderes" mundiais que "passou muito tempo acreditando no mercado, em (Ronald)Reagan e (Margaret)Thatcher", e recomendou aos líderes da União Europeia que assumam as rédeas da crise com intervenções políticas, e não mais econômicas. "Não é a hora de negar a política. A União Europeia é um patrimônio da humanidade", reiterou. Na saída, estudantes se acotovelaram aos gritos por fotos e autógrafos do ex-presidente, que não falou à imprensa. Impressionado com a euforia dos estudantes, Descoings disse ao Estado: "A última vez que vi isso foi com (Mikhail) Gorbachev, há cinco ou seis anos. Mas com Lula foi ainda mais caloroso".

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