Em Rondônia, madeireiros cercam viatura da PM e impedem perseguição a caminhão; veja vídeo

Episódio ocorreu no município de Cujubim, área que atualmente é a principal fronteira de expansão da extração ilegal

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Foto do author André Borges
Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - A atuação de criminosos que extraem madeira na Amazônia tem testado os limites, até mesmo, da presença policial encarregada de combater as ilegalidades. O Estadão teve acesso a um vídeo filmado por madeireiros que fazem extração na região do município de Cujubim, no norte de Rondônia, área próxima à fronteira com o Amazonas e que hoje é a principal fronteira de expansão dessas atividades ilegais. Nas imagens, é possível ver um grupo de carros em uma estrada de terra, que segue atrás de uma viatura do Batalhão Ambiental da Polícia Militar

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Em dado momento, um caminhão carregado de madeira passa por eles, em sentido contrário. Quando a viatura da PM decide manobrar, para ir atrás do caminhão, os carros decidem travar sua passagem. No vídeo, é possível ouvir os madeireiros gritando uns para os outros, para cercarem a viatura e impedirem que fosse atrás do caminhão.

“Vai passar aí, tampa aí, manda tampar aí”, grita um madeireiro, enquanto outro cruza o carro no meio do caminho. “Tampa aí, não pode deixar passar”, diz outro. A viatura, então, para, bloqueada pelos carros, enquanto o caminhão segue sozinho pela estrada, levando a madeira.

Como é possível notar nas imagens, não se trata de modelos simples de carros. Os policiais são cercados por picapes 4x4. Após o bloqueio, os quatro policiais descem dos carros, com armas de grosso calibre. As imagens mostram, porém, que eles não passaram pelo bloqueio.

Na gravação, um madeireiro diz ao agente policial que são “pais de família” e que só estão trabalhando. “Do mesmo jeito que vocês têm filhos para tratar, nós temos. Você já imaginou nós tirarmos seus braços, suas pernas. Vocês vão trabalhar mais?”, afirma.

Imagens mostram madeireiros cercando viatura para impedir a perseguição a caminhão Foto: Reprodução

A reportagem questionou o 7.º Batalhão de Polícia Militar de Cujubim sobre o ocorrido. O batalhão afirmou que não tinha informações para dar sobre o assunto até o momento.

O episódio ocorrido em Rondônia ocorre em meio ao enfraquecimento das ações de repreensão e combate ao crime ambiental, devido ao progressivo esvaziamento de órgãos como o Ibama, Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e a Fundação Nacional do Índio (Funai). O Ibama tem hoje metade dos agentes ambientais que tinha há uma década. O ICMBio passa por frequentes dificuldades financeiras até para cuidar das unidades de conservação que administra. A Funai vive um processo de paralisação de suas demarcações de terras e fiscalizações. A região amazônica tem sido palco de crescentes ameaças, como as ocorridas em Atalaia do Norte (AM), onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips seguem desaparecidos há dez dias.

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Em agosto de 2020, a Polícia Militar de Rondônia e a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) realizaram operações na região de Cujubim. A Operação Hiléia fez várias prisões e apreensões, chegando a 13.700 hectares de áreas embargadas e R$ 127 milhões em multas aplicadas por crimes ambientais.

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