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Em sete anos, dois bebês foram tirados das mães

Quando levou Roberta Jamilly, Vilma teve ajuda no hospital; no caso de Pedrinho, fingiu-se de enfermeira

Por Valdir Sanches e Goiânia
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Em 4 de novembro de 1979, às 15h30, uma mulher entrou no quarto 10 da Maternidade de Maio, em Goiânia. Ali estava Francisca Ribeiro da Silva que, dois dias antes, tivera uma menina, Aparecida. A mulher viu a criança - e disse que havia se enganado de quarto. Vilma, a intrusa, tinha uma cúmplice. Esta entrou em seguida no quarto, disse que era enfermeira chegando para o plantão e precisava levar o bebê para o berçário. Pegou-o e entregou-o a Vilma. A seqüestradora foi com o bebê para uma cidade do interior goiano, Itaguari. Num hospital da cidade, um médico seu amigo a esperava. O médico simulou um parto cesariano. Uma auxiliar de enfermagem diria depois que "a criança foi banhada em sangue" para tornar a encenação mais real. Vilma vinha usando roupas de gestante para simular uma gravidez inexistente. Queria fazer seu companheiro, Jamal Rassi, próspero empresário e fazendeiro de Goiás, acreditar que teria um filho dele. Rassi, no entanto, nunca registrou a criança. Dezoito anos depois, em 1997, o então companheiro de Vilma, Osvaldo Borges, registrou-a como Roberta Jamilly. Deu como local de nascimento Itaguari. Essas informações estão na sentença que em outubro de 2003 condenou Vilma a quatro anos e seis meses de prisão por "subtração de incapaz". Em 21 de janeiro de 1986, uma terça-feira, às 13h30, uma mulher entrou na Maternidade Santa Lúcia, em Brasília (211 km de Goiânia), e se apresentou como assistente social. Foi ao apartamento 10, onde estava Maria Auxiliadora Tapajós. Na noite anterior, às 23h30, Maria Auxiliadora tivera um menino, a quem chamava Pedrinho. A avó da criança estava no apartamento. A falsa assistente social - Vilma - disse que havia uma encomenda para ela, e a avó saiu para buscá-la. Disse, então, para Maria Auxiliadora que devia se despir para exames que seriam feitos a seguir. Era uma tática para impedir que a mãe saísse do apartamento. Apoderou-se de Pedrinho, dizendo que ia levá-lo para exames. Pôs o bebê em uma sacola e o levou para o estacionamento, onde um de seus irmãos (que não sabia do seqüestro) o esperava. Foram para Goiânia. Vilma usara com Osvaldo Borges a mesma tática da falsa gravidez, empregada contra Jamal Rassi. Borges não duvidou que era pai do bebê. Foi ao cartório, e registrou o menino como Osvaldo Borges Filho. Esses dados estão na denúncia apresentada pelo Ministério Público contra Vilma. Ela foi condenada a cinco anos e dois meses de prisão, por esse caso. A pena total, de 15 anos e 9 meses, inclui crimes como o falso registro em cartório. Em 2002, os seqüestros dos dois bebês eram um mistério. Em outubro daquele ano, uma neta de Osvaldo, Gabriela Borges (que suspeitava de Vilma), entrou num site de crianças desaparecidas. Lá havia uma foto de Pedrinho recém-nascido e de seu pai biológico, Jairo Tapajós. Gabriela viu semelhanças entre Jairo e o adolescente Osvaldo, filho de seu avô com Vilma. Falou com o SOS Criança e foi orientada a pegar um fio de cabelo de Osvaldo. O exame de DNA comprovou que o adolescente era Pedrinho. Pelo mesmo método, confirmou-se que Roberta Jamilly era Aparecida Fernanda, filha de Francisca.

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