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Em solenidade, Lula defende importância dos bancos oficiais

Ao entregar a posse de 23 mil hectares da Usina Catende, na Zona da Mata de Pernambuco, a 3,6 mil famílias sem-terra, Lula acusou o governo anterior pela falência do empreendimento

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que esteve à beira de ataque de nervos por conta do escândalo do dossiê petista contra o PSDB, comemora o novo rumo da disputa com Geraldo Alckmin, focada agora na "agressividade" do adversário contra a figura presidencial e a hipótese, propagada pelo PT, de privatização do Banco do Brasil e da Caixa Econômica num eventual governo tucano. Em solenidade hoje, no Palácio do Planalto, Lula voltou aos ataques, ressaltando a importância dos bancos oficiais para a inclusão social e acusando o governo passado de não emprestar dinheiro para pobres e priorizar ricos "megalomaníacos". "Não existe, neste mundo de Deus, ninguém superior a ninguém. Neste mundo de Deus, o que falta são as oportunidades", disse. Ao entregar a posse de 23 mil hectares da Usina Catende, na Zona da Mata de Pernambuco, a 3,6 mil famílias sem-terra, Lula disse que o governo anterior teve culpa pela falência do empreendimento por ter financiado, em vez de melhorias na área, mansões para antigos proprietários "megalomaníacos". Ele relatou que ficou assustado ao saber que os proprietários conseguiram empréstimo de R$ 400 milhões do Banco do Brasil, em 1999. "Eu me perguntava: como é que pode uma empresa que tem patrimônio líquido de apenas R$ 60 milhões conseguir empréstimo oito vezes superior ao valor patrimonial?" O advogado dos sem-terra de Catende, Bruno Ribeiro, presente na solenidade interveio, para defender a reeleição: "O Brasil era assim, mudou com o senhor e tudo indica que vai continuar mudando". O presidente, depois de intervenções da platéia petista brincou: "Isso aqui parece uma assembléia do Catende". "Presidida pelo presidente", completou Ribeiro. No mesmo dia em que a academia sueca concedeu o Nobel da Paz ao pioneiro do microcrédito, Muhammad Yunus, e ao Grameen Bank, de Bangladesh, Lula destacou as ações dos bancos oficiais no atual governo. "Precisamos criar uma consciência de microcrédito, de financiamento ao pequeno", disse. "Não esqueço nunca que em 2003 descobrimos que muita gente no Banco do Brasil tinha perdido o hábito de emprestar dinheiro para pequeno", completou. "A cultura política era a de priorizar apenas aqueles que costumavam contrair empréstimo, depois não pagavam, depois corriam, sobretudo em época eleitoral e faziam o governo fazer novo plano de financiamento por 30 anos." Lula comenta tom do debate Em conversas ontem com aliados no Planalto, ele avaliou que Alckmin "errou no tom" durante o debate da TV Bandeirantes, quando o chamou de "mentiroso" e defendeu a venda do avião presidencial. "O que pareceu ruim, num primeiro momento, está sendo bom agora, porque desviou o assunto, e todos partiram para o ataque com outro tema, a privatização", disse Lula, segundo um aliado. "Ele exagerou e errou no debate." Ao analisar pesquisas encomendadas pelo PT sobre a disputa, Lula relatou a aliados um encontro que teve com um eleitor no Entorno de Brasília, no domingo. O eleitor teria dito que não votou nele, Lula, no primeiro turno, mas votará agora pelo comportamento "tranqüilo" diante dos ataques de Alckmin. O Planalto avalia que o PSDB, depois de travar a "guerra do dossiê" tem de ir agora para a televisão desmentir que privatizará bancos e empresas estatais caso vença as eleições. "Eles vão ter de bater na mesma tecla, e esquecer o dossiê", afirmou um aliado. Alckmin, nos últimos dias, gastou boa parte do espaço na mídia para negar que vai privatizar bancos. O presidente negou qualquer caráter eleitoreiro da solenidade, evento que contou com a presença do candidato favorito ao governo de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Lula fez elogios à atuação do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005), avô de Campos, na Zona da Mata e disse que queria esperar o fim do processo eleitoral para anunciar a desapropriação. Mas não economizou ataques ao PSDB. Lula disse que não fez a reforma agrária que queria porque herdou do governo passado o Incra, órgão responsável por desapropriações, em situação "precária". "Além do Incra não ter funcionários, ainda pegamos algumas greves pela frente, porque também o salário dos funcionários estava totalmente defasado", concluiu.

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