Equilibrando-se nas muletas, Luiz Henrique Pimentel, de 34 anos, venceu ontem, com dificuldade, os 500 metros que o levaram do portão do Presídio Plácido de Sá Carvalho até a guarita de saída do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio. Ao transpor a cancela, estava em liberdade, depois de 11 anos trancafiado por dois assaltos à mão armada, com um pequeno período de 29 dias em liberdade. Ele foi um dos 11 presos beneficiados com o regime de liberdade provisória no primeiro dia do Programa Mutirão do Sistema Carcerário. O mutirão, lançado no Rio pelo presidente do Conselho Nacional de Justiça e do Supremo Tribunal Federal , Gilmar Mendes, na semana passada, pretende levantar a situação dos presídios no Brasil, dando liberdade aos presos com direito a sair. Estima-se, com base nos dados da CPI dos Presídios, que 30% dos 423 mil detentos do País possam ser soltos. No Estado do Rio, há 23 mil presidiários. Como disse o juiz da Vara de Execuções Penais do Rio, Carlos Borges, a idéia não é apenas soltar os presos. "Estamos preocupados em fazer chegar à população carcerária os benefícios da lei de execução penal que levam à sua ressocialização." No presídio Plácido Sá Carvalho, há 1.404 presos e cerca de 900 deles terão a situação revista pelo mutirão até quinta-feira. O trabalho conta com juízes, promotores de Justiça, defensores públicos e assistentes sociais. O mutirão iniciado ontem promete indicar empregos aos presos. A ONG Incubadora de Empreendimentos para Egresso (IEE), que conta com ajuda financeira da Petrobrás, se dispõe a ajudar os que queiram se aventurar a abrir uma pequena empresa. Dos 11 libertados ontem, apenas dois foram ouvir a proposta. Outros prometiam exercer atividades que desenvolviam antes ou que aprenderam no sistema carcerário.Há, porém, aqueles que, como prevêem os agentes penitenciários, em breve estarão de volta.