Empório de 120 anos no centro é tombado

Prefeitura vai preservar interior da Casa Godinho

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Por Vitor Sorano
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A história impregnada nas prateleiras de imbuia que abrigam secos e molhados comercializados pela Casa Godinho - fundada há 120 anos - está, por hora, conservada por decisão da Prefeitura de São Paulo. Os móveis, assim como os detalhes do forro e os balcões da venda de secos e molhados, só podem ser alterados com aval do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). O Estado antecipou a decisão em outubro do ano passado. A proteção decorre da abertura, ontem, do processo de tombamento desses itens do mobiliário e da decoração interna da Casa. Instalada desde 1888 no número 340 da Líbero Badaró, no centro velho paulistano, é um caso raro de tentativa de conservar o ambiente de um estabelecimento comercial ainda em sua atividade original. O quarto e atual proprietário, Miguel Romano, de 50 anos, gostou da notícia. "Achei importante, porque eu sempre disse que as instalações são intocáveis", afirma. "Eu tenho agregado mais detalhes, como um relógio de estação. Agora vou precisar de autorização da Prefeitura." Romano assumiu a administração da marca do pequeno empório em 1994. "Meu pai tinha uma lotérica. Os donos da Casa Godinho eram clientes e me conheciam desde pequeno. Um belo dia o seu Casimiro (então um dos sócios da casa) perguntou se eu não queria ser sócio. Uma semana depois eu estava na casa", conta. Com o passar de anos, mas sobretudo de administradores, o que era empório passou a servir salgados e pães - uma padaria foi implantada em 2001. Hoje são esses produtos, e não os queijos, azeites e outros itens, que atraem boa parte da clientela de 600 pessoas diárias, segundo Romano. A abertura do tombamento suspendeu os planos de construir um café anexo à loja. Walter Pires, vice-presidente do Conpresp, declara o interesse de que não só os móveis e a decoração, mas a Casa Godinho em si resista ao tempo - o tombamento não impede o ocupante de um imóvel de deixar o local. "Seria interessante", diz ele. A resolução de ontem também impede modificações sem aval em parte das instalações internas do Edifício Sampaio Moreira, onde está a Casa Godinho. O imóvel pertence à Prefeitura desde o final do ano passado. A fachada já está tombada desde 1992 e o que se pretende preservar agora são o saguão de acesso, elevadores, escadas e revestimentos, entre outros. Também foi aberto processo de tombamento da casa do arquiteto Felisberto Ranzini, na Rua Santa Luzia, 31, na Liberdade.

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