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Empresa que atestou segurança da barragem de Brumadinho já foi suspensa pela ONU

Grupo alemão foi suspenso da validação de projetos de verificação de redução de emissões por supostamente não garantir a imparcialidade das suas ações

Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA - A Tüv Süd, empresa que atestou a estabilidade da barragem de Brumadinho, já foi suspensa pela ONU de trabalhos no setor de projetos ambientais. Minutas de uma reunião ocorrida em março de 2010 e obtidas pelo Estado revelam que a empresa alemã não atendeu aos requisitos básicos exigidos pelas Nações Unidas e teve de fazer correções para voltar a atuar nosprojetos internacionais.

Trabalho de busca pelas mais de 200 vítimas da tragédia de Brumadinho que ainda estão desaparecidas passou a utilizar escavadeiras com esteiras similares à de tanques de guerra. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

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Na semana passada, a Polícia Civil de São Paulo cumpriu dois mandados de prisão temporária na capital paulista contra os engenheiros André Yassuda e Makoto Namba, que teriam prestado serviços para a mineradora Vale por meio da empresa alemã Tüv Süd e atestado a estabilidade da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais. Yassuda era diretor da Tüv Süd. Já Namba atuava como engenheiro, sem cargo de direção.

Numa reunião no dia 26 de março de 2010, em Bonn, o Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto “suspendeu a entidade operacional designada, TUV SUD Industrie Service GmbH (TÜV SÜD)” da “validação de projetos e verificação de redução de emissões”. 

Nas minutas, a decisão apontava que a suspensão teria “efeito imediato”. Dois foram os fatores que pesaram. Um deles foi o fato de haver “opinião positiva de validação”, mesmo quando existiam preocupações sobre o projeto. O Conselho do painel da ONU ainda indicou que essa situação “coloca em dúvida” e habilidade da empresa dar uma “opinião sólida que não fosse influenciada por pressões indevidas”. 

Outro problema teria sido a falta de experiência suficiente de alguns de seus funcionários. “O Conselho avalia que a experiência de três meses de trabalho na área técnica com uma dimensão setorial não garante confiança nessa competência”, indicou a minuta.

O Conselho ainda recomenda que se faça uma “análise completa das causas para identificar ações corretivas adequadas para lidar com as áreas de preocupação do Conselho e garantir um trabalho de verificação independente e de boa qualidade”. 

Alguns meses depois, a empresa voltou a receber o credenciamento da ONU para poder operar. Mas essa não foi a única vez que a TUV SUD se deparou com problemas. 

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Naquele mesmo ano, ONGs haviam protestado diante da ONU por conta do projeto 2569, entitulado: Reforestation as Renewable Source of Wood Supplies for Industrial Use in Brazil. O projeto de reflorescimento era da Plantar S.A. Mas fiscalizado pela TUV SUD. Para os ativistas, o reconhecimento do projeto em troca de créditos de carbono não poderia ser feito, diante da “dívida” ambiental que a empresa mantinha. 

Em silêncio desde o início da crise, a TÜV SÜD se limitou a publicar um comunicado em que se diz “profundamente afetada” pela tragédia de Brumadinho. De acordo com a empresa, a TÜV SÜD fez duas avaliações em nome da Vale, em junho e setembro de 2018. 

A companhia também indicou que os dois funcionários eram “especialistas reconhecidos em seus campos”. “Diante das investigações, a TÜV SÜD não pode comentar sobre o caso neste momento”, indicou, garantindo que a empresa está colaborando com as autoridades. 

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