Empresa que reformou telhado de igreja não tem registro no Crea

Entre as irregularidades cometidas estão também a execução da própria obra e o material utilizado, com amianto

PUBLICIDADE

Por e Rodrigo Brancatelli
Atualização:

Era uma obra irregular, com uma empresa irregular que utilizou material irregular. Contratada por R$ 70 mil em setembro do ano passado para trocar as 1.600 telhas da sede internacional da Igreja Renascer em Cristo, cujo teto desabou na noite de domingo e matou nove mulheres, a Etersul Coberturas e Reformas Ltda. não tem licença do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo (Crea-SP) para funcionar. A reforma não foi informada à Prefeitura, como exige a legislação municipal. Para completar, foram instaladas telhas de um tipo de amianto (uma fibra) tóxico, que está proibido na cidade há cinco anos. "Foi a Igreja que pediu (esse material). Eles fizeram questão. As (telhas) de amianto são mais difíceis de encontrar. Proibição tem, mas vende", disse Daniel dos Anjos, dono da Etersul. Segundo ele, a Igreja, ao escolher as telhas de amianto, considerou a maior resistência do material. A Prefeitura ainda não estudou se a Renascer fica passível de multa por causa das irregularidades. O Crea confirmou que a Etersul nunca teve registro e repassou a informação ao Ministério Público, que apura os responsáveis pela tragédia. Sobre a licença, Anjos tripudiou. "Para trocar telha, não precisa ser cadastrado no Crea ou ser engenheiro", disse na sede da Etersul, no Jardim Prudência. "Qualquer peão troca telhas." Conforme o Estado mostrou ontem, os primeiros indícios mostram que a estrutura desmoronou por falta de manutenção, pequenas infiltrações e excesso de peso causado por ar-condicionado, aparelhos de som e de iluminação colocados no teto. Dias antes da tragédia, fiéis viram pedaços de gesso se desprendendo e pequenas goteiras. Um problema para os peritos é que, nos últimos dez anos, não foi feito nenhum laudo técnico atestando a segurança do local. O Departamento de Controle do Uso de Imóveis (Contru), que concedeu alvará em julho de 2008, só checou os equipamentos de segurança. O último laudo foi feito em 1999 pelo engenheiro Carlos Freire de Andrade Lopes, depois de uma ampla reforma para reforçar a estrutura de sustentação do teto. Segundo ele, na época, não havia ar-condicionado, equipamentos de luz ou som. "É, sim, um absurdo um teto reformado há dez anos ruir", disse. "Mas faz dez anos que não sabemos o que foi feito lá." Em programa na Rede Gospel, o "apóstolo" Estevam Hernandes disse que a Igreja vai contratar dois peritos para "fazer uma investigação paralela". COLABOROU VITOR SORANO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.