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Empresário diz que Prefeitura beneficiou Grupo Niquini

Por Agencia Estado
Atualização:

Em uma operação sigilosa, a Secretaria Municipal dos Transportes de São Paulo retirou de seu fundo de multas e deu, em duas parcelas, R$ 665 mil para ajudar o Grupo Niquini a pagar salários atrasados de funcionários de duas empresas que o grupo estava para comprar. Além disso, com o suposto conhecimento do secretário, Carlos Zarattini, o Grupo Niquini foi autorizado a trocar R$ 135 mil em vales-transporte por dinheiro, que foi usado na realização do negócio, no valor total de R$ 800 mil. A denúncia foi feita nesta segunda-feira pelo empresário Willian Ali Chaim, de 58 anos, que depôs na Comissão de Trânsito, Transportes e Atividade Econômica da Câmara Municipal de São Paulo. "Ele (Zarattini) ajudou a cometer um ato irregular, não sei se é crime." Nesta segunda-feira mesmo, vereadores já começaram a se mobilizar para formar, ainda esta semana, uma (CPI) para investigar o transporte público da cidade. O empresário Chaim, que é filiado ao PT, preside as três empresas do Grupo Niquini (São Judas, Santa Bárbara e Expresso Parelheiros), do empresário Romero Teixeira Niquini. As viações estão sob intervenção da São Paulo Transportes (SPTrans), por suspeita de fraude no repasse de vale-transporte, desde o dia 6 de setembro. Segundo Chaim, em agosto deste ano, o Grupo Niquini estava negociando a compra das empresas Ibirapuera e Santo Amaro. Mas o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus informou que a negociação só seria feita se fossem resolvidos o atraso no salário dos funcionários - R$ 800 mil - e o passivo trabalhista da empresa, que somava R$ 2,5 milhões. "Estávamos no processo de compra das empresas, mas o sindicato paralisou tudo por falta do pagamento", afirmou Chaim. "A solução encontrada, debatida com o secretário, foi liquidar as operações dessas empresas e diluir os custos." Segundo o empresário, foi feita uma reunião entre ele, o secretário, o presidente do Sindicato Patronal (Transurb), Sérgio Pavani, e representantes da SPTrans. No encontro, teria ficado decidido que a SPTrans bancaria parte dos salários atrasados com dinheiro de arrecadação de multas do sistema de transporte, e a outra parte viria do Grupo Niquini, que trocaria seus passes por dinheiro. Em seu depoimento, Chaim disse que a primeira transferência eletrônica de R$ 400 mil foi para a conta corrente da Viação Cidade Tiradentes (VCR), que estava vendendo as duas empresas. "No dia 12 de agosto, houve outra transferência, de R$ 265 mil, para a conta da Santa Bárbara, que eu administro." Chaim mostrou o extrato da transferência. "Os R$ 265 mil referentes a multas foram depositados em nossas contas, eu saquei o dinheiro e entreguei para seguranças levarem até o Ibirapuera, para pagar os funcionários." Segundo o empresário, a troca dos vales foi feita no dia 12 de agosto, e o depósito de R$ 265 mil na conta corrente da Santa Bárbara, no dia 13. Pouco depois, as empresas sofreram intervenção. "O secretário e a SPTrans tinham consciência do que estava acontecendo." Chaim disse que dificilmente o dinheiro será devolvido aos cofres públicos. Durante o depoimento, motoristas e cobradores em greve protestaram na frente do Câmara. Chaim manteve que foi indicado por Zarattini para presidir o Grupo Niquini e fez críticas ao secretário. Ainda informou que, mensalmente, o sistema deixa de arrecadar R$ 101.938.869,80. Ele também disse que o empresário Arnaldo Caputo, diretor da Viação AAL, sofreu pressões de Zarattini. Até as 19 horas desta segunda-feira, o secretário não havia respondido aos pedidos de entrevista feitos pela reportagem.

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