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Enquanto alguns familiares se conformam, outros creem em milagre

Por Felipe Werneck
Atualização:

"Ele está vivo, precisando que alguém vá buscá-lo. Não só meu filho. Não diga que sou louca, por favor. É a fé de uma mãe." Assim reagiu ontem a aposentada Maria Eva Marinho, de 40 anos, à divulgação de que dois corpos haviam sido encontrados. Espírita, ela segurava um livrinho de orações enquanto falava sobre o filho, o engenheiro Nelson, um dos passageiros. Ela desceu do hotel onde estão hospedados parentes com o marido, Nelson Faria Marinho, para quem a descoberta "renova a esperança". "Não posso pensar no pior. Sou pai, tenho de pensar no melhor." Ele relatou que o filho trabalhava para uma empresa italiana e fez na Holanda um curso de sobrevivência no mar. Revoltado, acusou a Air France de "negligência" por causa do anúncio da troca dos sensores de velocidade dos Airbus. "Que há falhas, há. Eles já estão admitindo." Representantes da Marinha e da Aeronáutica informaram às 12h40 os parentes que estão no hotel sobre a descoberta dos corpos. A notícia foi divulgada à imprensa oficialmente cerca de 40 minutos depois no Recife. "Não foi informado o estado dos corpos nem a idade nem características físicas", contou o advogado Marco Túlio Moreno Marques. Ele disse não ter mais "esperança nenhuma" de localizar vivos os pais, José Gregório Marques e Maria Tereza Moreno Marques. "Cada um tem um tipo de reação. Umas pessoas choraram, ficaram mais tristes. Outros ficaram conformados e alguns aliviados. No meu caso, achei até bom. Até agora estávamos sem evidências." Marco Túlio contou que após o anúncio outro parente comentou: "Feliz é a família dos corpos que apareceram. Temos ainda 226 sem saber de nada." O advogado disse desejar saber agora a causa do acidente e que "acabe essa confusão toda". Mãe da funcionária da Petrobrás Adriana Francisca, que estava no voo, Esther Sluijs disse que outra parente, uma senhora, passou mal e foi atendida por médicos após o anúncio da descoberta dos corpos. "Para alguns é um desespero, porque tem gente que acredita em sobreviventes. Para outros, um alívio porque até então não havia nenhum sinal. Para mim, é positivo ter uma coisa concreta", disse Esther Parentes confirmaram que peritos da Polícia Federal desde ontem coletam no hotel amostras de saliva e fios de cabelos para a eventual comparação de corpos por exame de DNA. Dois advogados brasileiros da Air France, acrescentou Marco Túlio, estão desde sexta-feira fazendo reuniões com parentes no hotel, esclarecendo que é possível fornecer declarações com os nomes dos passageiros, para serem usadas no caso de fechamento de contas e para evitar fraudes. "Primeiro estão colhendo dados, explicando os documentos necessários. Por enquanto, não falaram de indenização."

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