Enterro de cobrador assassinado reúne 400 pessoas

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Por Agencia Estado
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Cerca de 400 rodoviários acompanharam pelas ruas de Cariacica, município da Grande Vitória, o cortejo que precedeu o enterro do cobrador Farlaine dos Anjos Nascimento, de 24 anos, cujo assassinato, ontem, provocou uma greve da categoria e resultou em 23 ônibus incendiados. Sob sol muito forte, os trabalhadores, a maioria a pé e alguns em coletivos, acompanharam o corpo - que foi velado em casa de parentes - pelos terminais rodoviários de Campo Grande e Itacibá e depois até o Cemitério São José do Alto Laje, onde Nascimento, que era militante sindical, foi sepultado. Parte dos ônibus da região metropolitana da capital capixaba não circulou de manhã - os que o fizeram, em muitos casos não tinham cobradores e permitiram que os passageiros viajassem sem pagar. Muitos manifestantes atribuíam o crime à atuação sindical da vítima. "Com certeza, foi por causa disso", afirmaram vários ativistas, entre eles Luciano Santos Correia, que segurava um cartaz com os dizeres: "Estamos pagando com a vida para poder trabalhar". Segundo alguns rodoviários, Farlaine, integrante da oposição sindical, era um forte candidato a ganhar as eleições para uma vaga na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), órgão que dá estabilidade no emprego, na Viação Santa Zita, onde trabalhava. Muitos prometeram que votarão em Farlaine mesmo depois de morto. O assassinato teve características de crime de mando, já que o cobrador foi fuzilado sem que nada fosse roubado. Embora alguns manifestantes garantissem que não voltariam ao trabalho hoje, o presidente do Sindicato dos Rodoviários local, Carlos Alberto Mazzoni, declarou que, após o sepultamento, a categoria voltaria à normalidade. "Continuaremos cobrando a apuração do fato", garantiu. "A Polícia não pode ser onipresente. Infelizmente, o crime pode se repetir." No cemitério, parentes, amigos e colegas de Farlaine, diante do caixão aberto, cantaram, rezaram e aplaudiram. O corpo foi enterrado sob gritos de "justiça, justiça". A mãe do morto, Eucy dos Anjos Miranda, afirmou "não poder julgar ninguém, nem o governador, nem o chefe de Polícia". "Espero que a Justiça seja feita. Se o homem não fizer, Deus vai fazer. Não quero confusão. Ele lutou, ele se foi, mas vocês ficam", disse, referindo-se aos rodoviários. Algumas pessoas passaram mal. Uma delas, Antônia Rocha, tia do cobrador assassinado, teve de ser carregada. O Sindicato dos Rodoviários solicitou uma reunião com o governador Paulo Hartung (PMDB). Durante toda a tarde a circulação de ônibus foi precária na Grande Vitória. Às 18h30, a Companhia Estadual de Transportes Urbanos informou que os ônibus voltaram a circular normalmente. Pelo menos 1.200 ônibus costumam circular às segundas-feiras na Grande Vitória, transportando cerca de 800 mil passageiros.

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