Entrada de armas em prisão pode ter sido facilitada

Irmãs de presos mortos sugeriram a deputados que agentes policiais colaboraram no massacre em MG

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Por Eduardo Kattah
Atualização:

A hipótese de facilitação de entrada de armas na Cadeia Pública de Ponte Nova (MG), a 180 quilômetros de Belo Horizonte, e de colaboração de agentes policiais para a briga entre detentos que resultou em 25 mortos anteontem foi levantada em depoimentos colhidos ontem por uma delegação da CPI do Sistema Carcerário na Câmara. A denúncia foi feita por duas mulheres, identificadas como irmãs de presos assassinados. Aos parlamentares, o delegado regional, Luiz Carlos Chartouni, e o diretor da cadeia, Wanderlei Miranda, negaram as acusações. As mulheres deixaram a Câmara de Ponte Nova sob escolta. O presidente da CPI, deputado Neucimar Fraga (PR-ES), destacou o depoimento do policial militar Dueber Castro Silva. Ele estava de plantão numa guarita e teria sido um dos primeiros a chegar às celas no início do motim. Silva contou que ouviu gritos de socorro vindos da cela 8 - onde as vítimas foram acuadas e os corpos, encontrados carbonizados posteriormente - e, na seqüência, mais de 20 disparos de arma. "Pela quantidade de tiros que ele ouviu pode ter sido utilizada mais de uma arma. Com isso, muda um pouco a investigação inicial", disse o deputado. "Indica a possibilidade de alguém ter facilitado a entrada das armas para que esses crimes fossem cometidos." O chefe da Polícia Civil, Marco Antônio Monteiro, indicou ontem dois delegados da Corregedoria-Geral que irão assumir a investigação. Segundo a assessoria do Palácio da Liberdade, o governador Aécio Neves (PSDB) determinou que seja oferecida às famílias das vítimas e de presos a inclusão no Programa de Proteção a Testemunhas (Provita). A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas visitou a unidade em 11 de maio e constatou superlotação, carência de infra-estrutura e existência de presos já condenados, que deveriam estar cumprindo pena em presídios. Em ofício encaminhado à Secretaria de Estado de Defesa Social em 23 de março, o presidente do Tribunal de Justiça de Minas, Orlando Adão Carvalho, chamava a atenção "para a situação carcerária de Ponte Nova, levantada pela própria comarca, descrita como ?insustentável?, com risco iminente de fugas e rebeliões". O secretário Maurício Campos disse que recebeu um pedido para a transferência de 21 presos, mas, segundo ele, "o ofício não indica nem sequer quais seriam os presos destinatários de tais vagas". Campos alegou ainda que não havia informações sobre a briga de duas gangues rivais. Já foi lavrado um auto de flagrante apontando 25 presos da cela 9 como responsáveis pelo ataque. O alvo principal seria Cleverson Alexandre da Cruz, preso da cela 8 e rival do traficante Wanderson Luiz Januário, o Biju. INDENIZAÇÃO O governo mineiro já reconheceu o direito à indenização dos familiares dos presos mortos. O presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), Adilson Rocha, disse, porém, que cada família terá de entrar com uma ação contra o Estado.

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