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Escadinha, o astro do crime

Por Agencia Estado
Atualização:

José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, já povoava o noticiário policial na década de 70, por associação ao tráfico e roubo, mas virou astro do crime em 31 de dezembro de 1985 ao protagonizar uma das fugas mais espetaculares do presídio da Ilha Grande: de helicóptero. Um dos mais poderosos traficantes de drogas do Rio nos anos 80, fundador do Comando Vermelho, era conhecido por cometer crimes e distribuir comida e justiça, segundo sua lei, no morro do Juramento. Foi um dos primeiros de uma geração de bandidos que se tornaram ídolos no morro. Prisões e fugas A primeira vez em que Escadinha cumpriu pena ocorreu em 1978, quando foi preso e condenado a 22 anos pelo assalto de um carro-forte no Rio e por tráfico de cocaína. Começava uma ?carreira?. Mandado para o presídio da Ilha Grande, tornou-se um dos fundadores da Falange Vermelha, organização que deu origem ao Comando Vermelho. Sua vida atrás das grades durou pouco. Em 1979, fugiu da Ilha Grande. Recapturado em 1982, saiu da penitenciária Lemos de Brito, no centro do Rio, pela porta da frente, disfarçado de policial militar. Número 1 Tornou-se o procurado número um da polícia. Em 11 de fevereiro de 1985 foi preso no morro do Jacarezinho. Escadinha não resistiu à prisão, disse que precisava repousar um pouco. E fez uma promessa aos jornalistas: fugir mais uma vez. Na prisão Água Santa, Escadinha fez greve de fome em protesto contra as más condições da penitenciária. Queria ser transferido para a Ilha Grande. Foi. Depois de promover festas no presídio cercado pelo mar, entre elas a de seu casamento, em que mandou matar dois bois e recebeu dezenas de visitantes ? inclusive sambistas fantasiados e integrantes da bateria da Escola de Samba do Morro do Juramento ? Escadinha fugiu mais uma vez. Essa, a fuga do estrelato. A fuga Em 31 de dezembro de 1985, um helicóptero pousou em um descampado da Ilha Grande, a 500 metros do muro do presídio. Lá estava o bandido, caminhando com uma mulher, à espera do resgate. Foram 80 dias como foragido. No primeiro, passou na favela para beijar a mão de sua mãe e desejar feliz ano novo. A aventura acabou em 22 de março de 1985. Escadinha levou três tiros em um cerco feito pela polícia no morro do Juramento e foi detido. O trabalho Desistiu das fugas, ou não mais conseguiu escapar. Escadinha ficou, entre uma fuga e outra, 25 anos em regime fechado. Em 2002, conseguiu a progressão de pena e passou a poder sair da cadeia (o Complexo Penitenciário de Bangu) às 6h da manhã e voltar às 6h da tarde. Nesse tempo, trabalhava em uma cooperativa de táxi. Ele também mantinha a creche Príncipe da Paz, no morro do Juramento. Essa era sua rotina nos últimos dias de vida. Morreu assassinado, aos 48 anos, com dois tiros no rosto, dentro de seu carro, um Vectra prata, na avenida Brasil, no Rio de Janeiro. O veículo em que estava foi fechado por dois ocupantes de uma motocicleta, que efetuaram quatro disparos. Os outros dois acertaram Luciano da Silva, que o acompanhava e também morreu no local. FRASES DE ESCADINHA  "Tenho impressão que, mesmo tendo cumprido 14 anos, nunca deixarei de ser o Escadinha"  "Quem é mais bandido, eu ou o [Sérgio] Naya?"  "Muita gente acredita que estou regenerado, mas na verdade eu vou ter de provar a mim mesmo todos os dias que isso é real."  "Sempre tive vocação de ajudar as pessoas e hoje sei que achei a forma errada"  "Hoje [1999] eu não pensaria em escolher uma marmita a um fuzil"  "O maior defeito do sistema carcerário é refletir sem retoques a imagem do Brasil"  "Meu nome vende jornal e abafa a realidade da opinião pública"  "O tráfico vai acabar quando a sociedade pressionar o Estado a não fazer mais média, achando que prendendo o Escadinha os problemas estarão resolvidos"  "Não me arrependo pelo que fiz"

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