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Escutas da PF revelam: jogo do bicho não é mais tão lucrativo

Bicheiros do Rio estão substituindo negócio por caça-níqueis

Por Agencia Estado
Atualização:

Conversas gravadas pela Polícia Federal, que constam da denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra 43 suspeitos de envolvimento com a contravenção, revelam que o jogo do bicho já não é mais tão lucrativo no Rio, o que explica o avanço da máfia dos caça-níqueis. As gravações mostram ainda que os contraventores lavam o dinheiro do crime vendendo café e comprando imóveis e fazendas. Diálogos incluídos na denúncia deixam claro que o jogo do bicho "dá prejuízo, daí a cobiça pelo direito de explorar os caça-níqueis". Em um trecho, um homem cujo telefone foi grampeado - que seria integrante da quadrilha de Rogério Andrade -, diz: "Passa o prejuízo de R$ 6.195 para Cesar". Em outro, a mesma pessoa pede: "Comunica que lá deu prejuízo". Em seguida, informa o valor perdido, R$ 3 mil. Quanto à diversidade dos investimentos dos bandidos, a denúncia indica que a negociação de sacas de café é de interesse da organização encabeçada por Rogério Andrade. Os criminosos teriam, inclusive, aberto uma empresa na Bahia. "Tradicionalmente, a atividade agropecuária é um dos biombos prediletos para a lavagem de dinheiro, por se tratar de bens consumíveis de difícil controle", informa o texto. Para o delegado da PF Alessandro Moreti, que conduz a investigação sobre os caça-níqueis, está claro que os bandidos adquirem bens e investem em café para lavar dinheiro. "A atividade deles já é bastante lucrativa." Somente o grupo de Fernando Iggnácio, rival de Rogério Andrade, teria rendimentos de R$ 200 mil por dia. Moretti disse que as duas quadrilhas investem em café e em imóveis de alto padrão no Rio, além de fazendas em outros Estados, como Bahia e Minas. Segundo o delegado, a derrocada do jogo do bicho já era conhecida, assim como a alta rentabilidade dos caça-níqueis, mas ficaram claras com os grampos da PF. De acordo com a denúncia, alguns "laranjas" seriam usados tanto pelo grupo de Rogério Andrade quanto pelo de Fernando Iggnácio, apesar da violenta guerra entre eles. A disputa entre os dois tem origem na morte, em 1997, de Castor de Andrade, tio de Rogério e sogro de Iggnácio. Castor teria destinado a Fernando o controle dos jogos eletrônicos e a Rogério o do jogo do bicho. Como a exploração dos caça-níqueis se revelou mais vantajosa, e o jogo do bicho encontrava-se em decadência, Rogério passou a invadir o território de Iggnácio, que revidou. A briga é violenta, marcada por destruição de máquinas a pauladas e numerosas mortes. O ex-chefe de Polícia Civil do Rio Álvaro Lins, deputado federal eleito, é suspeito de liderar um grupo de policiais que daria proteção à quadrilha de Rogério. O contraventor pode ter colaborado financeiramente para sua campanha ao Congresso. Lins convocou uma entrevista coletiva para hoje para se defender das acusações.

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