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Especialistas questionam a automação do A320

Uso excessivo de sistema eletrônico poderia induzir pilotos a erros

Por Alberto Komatsu e da Agência Estado
Atualização:

Piloto com experiência de 20 mil horas de vôo em aviões da Airbus, o português José Alberto de Sousa Monteiro, comandante aposentado da TAP, relata que o A-320 tem uma alavanca manual para acionar o freio localizado na asa (spoiler), caso ele não seja acionado automaticamente. Também perito da Organização de Aviação Civil Internacional (Oaci), ele diz, no entanto, que o mais importante agora é o confronto da transcrição das gravações de voz do vôo 3054 com a segunda caixa preta, para saber se esse dispositivo foi usado. Veja também: Caixa-preta aponta que piloto não conseguiu desacelerar Airbus CPI quer inquérito sobre vazamento de dados da caixa-pretaQuem são as vítimas do vôo 3054 Cronologia da crise aérea Vídeos do acidente Tudo sobre o acidente do vôo 3054 "Os spoilers são superfícies que saem automaticamente por cima das asas após a aterrissagem, empurrando o avião de encontro ao chão, aumentando muito o atrito, e, desse modo, a eficiência da travagem. Se eles não saem automaticamente, há uma alavanca que os faz sair, se for manualmente utilizada. Foi usada essa alavanca? Não foi? Não se depreende (com a transcrição)", diz Monteiro, que pilotava o A-340, para vôos de longa duração. "Só a leitura e interpretação dos parâmetros de vôo contidos nas caixas pretas será a maior e mais fiel fonte de informação para ser possível ajuizar de forma correta o que de fato se passou. O que está em jogo são valores humanos e materiais que merecem a mais elevada consideração e respeito", acrescenta o comandante Monteiro. O assessor de segurança de vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), comandante Célio Eugênio de Abreu Jr., considera que a transcrição da caixa preta com as gravações de voz do A-320 da TAM ainda é insuficiente para determinar as causas do acidente, mas ela revela que os pilotos foram surpreendidos pela falha no freio localizado na asa (spoiler). "É preciso agora analisar a outra caixa preta, porque possivelmente alguns comandos não funcionaram", afirma o assessor do SNA, entidade de classe que integra a comissão de investigação do acidente da TAM. De acordo com um ex-piloto da Força Aérea Brasileira (FAB), a transcrição "tira o peso" sobre a responsabilidade da pista de Congonhas no acidente. "A pista não foi o fator preponderante, ela contribuiu. É preciso agora avaliar se houve falha humana, de manutenção ou estrutural do avião. Ou se foi uma conjunção de tudo isso", diz o piloto, que pediu para não ser identificado. O comandante Enio Lourenço Dexheimer, ex-piloto da Varig e instrutor de vôo no simulador da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS, concorda que a transcrição deslocou o foco da pista de Congonhas, mas ressalta que ela pode ter influenciado a atuação do piloto da TAM. "A pista pode ter influenciado psicologicamente. Será que o piloto esqueceu de fazer alguma coisa porque a pista estava molhada? Isso pode ter sido um fator de estresse", afirma, ressaltando que um acidente aéreo é o resultado de uma conjunção de fatores.

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