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''Estado'' é premiado por revelar atos secretos

Reportagens sobre desmandos no Senado rende prêmio de investigação jornalística na Argentina

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Por Redação
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O Estado recebeu no sábado, em Buenos Aires, o prêmio de investigação jornalística na América Latina concedido pelo Instituto Prensa y Sociedad (Ipys) e pela organização Transparency International. A premiação foi concedida aos repórteres Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel pela série de reportagens que revelaram, em 2009, a existência dos atos secretos do Senado e os benefícios ilegais patrocinados pelo presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).O jornal mostrou que mais de 300 boletins sigilosos nomearam familiares e aliados de José Sarney, entre eles sobrinhos e até o namorado da neta. Na mesma série, o Estado revelou que a Fundação Sarney desviou R$ 500 mil de patrocínio de R$ 1,3 milhão da Petrobrás para empresas fantasmas, de fachada ou da família do senador. O senador também ocultou da Justiça a casa de R$ 4 milhões onde vive em Brasília, no Lago Sul. Os repórteres mostraram ainda que um neto de Sarney intermediou a venda de empréstimos de crédito consignado dentro do Senado.As reportagens já haviam recebido o Prêmio Esso de Reportagem, a principal premiação do jornalismo brasileiro. O reconhecimento internacional veio sábado, na edição de 2010 do Congresso Latino-Americano de Jornalismo Investigativo (Colpin), que começou sexta-feira e termina hoje. Ao todo, foram 230 trabalhos inscritos, de mais de 20 países da América Latina e Caribe. O Estado era o único representante brasileiro entre os 15 finalistas.Na manhã de ontem, após receber o prêmio, os repórteres apresentaram os detalhes da investigação aos participantes do Colpin. Além deles, o jornalista do Estado Leonêncio Nossa também ministrou uma palestra a convite da organização do evento, que destacou a qualidade do seu trabalho Araguaia. Em junho de 2009, com base em documentos do major Sebastião Curió, o repórter mostrou que, dos 67 integrantes da guerrilha do Araguaia, 41 foram presos e executados, quando já não ofereciam risco aos militares.Grampos ilegais. O trabalho sobre o caso Sarney foi um dos três premiados na cerimônia ocorrida na noite de sábado no Palácio Duhau, na capital argentina. Os repórteres ganharam o segundo prêmio e receberam, além de um diploma, US$ 10 mil. A revista colombiana Semana levou o primeiro lugar com a revelação de que a polícia secreta da Colômbia fez escutas telefônicas ilegais de políticos, jornalistas, magistrados, intelectuais, e até de oficiais de governo próximos ao ex-presidente Álvaro Uribe.A terceira colocação ficou com o mexicano Oscar Martinez, do site elfaro.net, que publicou reportagens sobre as máfias que lucram com pessoas que tentam cruzar ilegalmente a fronteira para os EUA. É a primeira vez que um site é premiado.A direção do Ipys - instituto com base no Peru e responsável pelo prêmio - destacou o esforço jornalístico da equipe do Estado. "O caso Sarney é uma investigação jornalística que buscou recursos do próprio jornalismo, com documentos e indagações complementares. "Participaram do prêmio os principais meios de comunicação da América Latina e o denominador comum é mostrar que o resultado das reportagens é fruto de uma investigação própria", ressaltou Ricardo Uceda, diretor executivo do instituto.Jurada do prêmio latino-americano, a jornalista Tina Rosenberg, do New York Times, lembrou da importância da série de reportagens do Estado. "É um exemplo de investigação clássica, muito própria, sem depender de organismos oficiais. E muito importante para o Brasil", disse a vencedora do prêmio Pulitzer em 1996, o mais importante do jornalismo norte-americano."É um reconhecimento internacional importante, porque mostramos ao Brasil em 2009 a existência dos atos secretos e como a família Sarney transformou o Senado num negócio privado. Agora, parte da imprensa latino-americana também sabe o que a família Sarney representa na política brasileira", afirmou o repórter Leandro Colon, ao receber a premiação. Os jornalistas premiados destacaram ainda o período de mais de 400 dias de censura a que o Estado está submetido. O jornal está proibido de publicar informações sobre o inquérito da Polícia Federal que investiga Fernando Sarney, filho de José Sarney.

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