Estudo diz que viver em favela é melhor do que na periferia

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Por Agencia Estado
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A falta de infra-estrutura básica e a grande distância dos centros que oferecem serviços e empregos, aliada à ausência de um sistema de transporte eficiente, fazem das periferias das metrópoles brasileiras lugares com condições de vida piores do que as favelas das capitais. Mesmo os conjuntos habitacionais construídos pelo poder público nas áreas mais afastadas sofrem com a ausência de rede de água e esgoto e de coleta de lixo. A conclusão é do pesquisador Adauto Cardoso, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) da UFRJ, que estuda a questão habitacional há sete anos. Cardoso acredita que, embora as favelas sejam ocupações irregulares, a população é atendida pelos serviços básicos. Já a periferia não conta com coleta de lixo nem de esgoto e sofre com a constante falta d?água. Quanto mais distante do centro é a região, diz o professor, maior é a pobreza. O estudioso apresentará os resultados de sua pesquisa no "Seminário Nacional Metrópoles: Entre a coesão e a fragmentação, a cooperação e o conflito", que começou nesta segunda-feira no Rio e vai até sexta-feira. ?Cada vez mais está aumentando a desigualdade entre as cidades que ficam nas regiões metropolitanas. Excluindo o problema da violência, é melhor viver numa favela no Rio do que num loteamento na Baixada Fluminense, por exemplo?, afirma Cardoso. Ele lembra que os moradores das favelas são assistidos por programas como o favela-bairro, da prefeitura do Rio, que já levou melhores condições de vida a mais de 60 comunidades. ?As áreas centrais têm maior visibilidade e as mudanças acontecem.? O professor acha que a criação de um sistema de transporte rápido e barato que leve a população das periferias à área central é fundamental para que essas regiões se integrem às metrópoles. Das seis cidades brasileiras estudadas ? Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Belém ?, a situação mais grave foi verificada na capital pernambucana. Lá, 60% das moradias são irregulares. O índice se repete na região metropolitana de São Paulo, enquanto no Rio a taxa é de 18%. O caso de Recife é mais crítico, segundo Cardoso, porque lá as condições de vida são ainda piores do que em São Paulo. Em Belém, é preocupante a permanência de famílias morando em palafitas. Em Porto Alegre, o quadro encontrado foi o menos grave, em termos quantitativos. A cidade conseguiu reduzir o número de ocupações irregulares em 10% nos últimos oito anos, de acordo com a pesquisa. Cardoso critica a falta de uma política nacional de habitação ? que persiste apesar do déficit de seis milhões de moradias no País, segundo dados do IBGE. Ele defende que o governo federal destine recursos orçamentários para ajudar os municípios que não têm condições de conseguir investimentos externos para solucionar a questão da habitação popular. ?Há um círculo vicioso da pobreza que tem de ser rompido: o município pobre não tem dinheiro para investir nem para criar um corpo técnico que faça um planejamento adequado. Como não há melhorias, a população não paga os impostos e, com isso, a prefeitura perde em arrecadação e não pode fazer nada. Para mudar isso, é preciso modernizar as gestões municipais?, afirma.

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