'Eu vou dar picolé para vocês', disse vigilante antes de atear fogo em creche

Segundo investigações, o ato foi premeditado e ocorreu no aniversário de morte do pai do vigia

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Por Felipe Resk
Atualização:

JANAÚBA - O incêndio que matou sete crianças e uma professora na Creche Municipal Criança Inocente, em Janaúba, norte de Minas, ocorreu no meio da festa de dia das crianças, antecipada por causa do feriado na semana que vem. 

Corpos das vitimas começaram a ser velados por familiares em Janaúba (MG) Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

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Com uma mochila nas costas e um pote azul nas mãos, o vigilante Damião Soares da Silva, de 50 anos, entrou no salão, fechou a porta e atraiu a atenção das crianças. "Eu vou dar picolé para vocês."

Damião atirou álcool nos alunos e no próprio corpo, depois ateou fogo. Segundo as investigações, o ato foi premeditado e ocorreu no aniversário de três anos da morte do pai do vigilante.

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No momento, apenas as crianças do berçário não participavam da festa. A dinâmica do crime foi relatada por testemunhas à Polícia Civil.

De acordo com o delegado Renato Nunes Henriques, chefe do Departamento da Polícia Civil de Montes Claros, responsável pela região, Damião, de fato, fabricava picolé em casa. Por isso, ele comprava etanol, usado como insumo na produção e guardava em casa (misturado com água, o álcool mantém a temperatura mais baixa).

"A investigação, agora, é para traçar o perfil psicológico dele", afirmou o delegado. "Ele começou a demonstrar transtornos em 2014, quando foi ao Ministério Público denunciar que a mãe estava envenenando a comida dele mas era mentira." Para vizinhos da creche, o vigilante parecia uma pessoa normal. "Ele não mostrava isso para a sociedade."

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Ao longo da semana, familiares relataram que Damião repetiu, ora que daria um presente a eles, ora que iria morrer. 

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Velório. Os corpos das vitimas começaram a ser velados por familiares, em casa, na noite de quinta-feira, 5. Os enterros ocorrem separadamente no cemitério da cidade.

Enterro da menina Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos, no Cemitério Campo da Paz em Janaúba (MG) Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

A primeira criança a ser enterrada foi Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos, irmã gêmea de Victor Hugo Ferreira Silva, que, por estar com conjuntivite não foi para a escola no dia do crime. "Poderia ter sido os dois", disse o avô Antônio Ferreira, de 55 anos. 

Ana Clara sofreu queimaduras no rosto e no corpo e não resistiu. Outras duas irmãs dela inalaram fumaça, foram internadas e transferidas para Montes Claros.

Veja as fotos do incêndio

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