Ex-diplomata do Vaticano pede renúncia de Papa Francisco por 'encobrir abusos'

Carlo Maria Viganò, espécie de embaixador católico nos EUA, entre 2011 e 2016, denunciou o pontífice do Vaticano em uma extensa carta divulgada à imprensa europeia; Papa disse que não irá comentar carta

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Por Redação
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O ex-núncio apostólico nos Estados Unidos, Carlo Maria Viganò, de 77 anos, divulgou uma carta neste domingo, 26, pedindo a renúncia do papa Francisco ao assegurar que o pontífice tinha conhecimento, desde junho de 2013, das acusações de abuso sexual relativas ao cardeal Theodore McCarrick, que foi punido em junho pelo Vaticano.

Papa Francisco aceita renúncia de bispo americano acusado de abuso sexual. Foto: AFP PHOTO / FILIPPO MONTEFORTE

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O arcebispo Viganò escreveu uma carta de 11 páginas, que foi publicada por alguns veículos de imprensa europeus mais conservadores. O prelado acusou outros membros da Igreja Católica de formarem um "lobby gay" e acobertarem as acusações contra o cardeal americano. A carta se baseia em acusações pessoais, não apresentando nenhuma documentação ou prova das mesmas.

O ex-embaixador do Vaticano escreveu que Francisco conheceu o caso em 23 de junho de 2013 porque ele mesmo o comunicou e, mesmo assim, o papa "seguiu encobrindo McCarrick", diz no documento.

Em junho, McCarrick, de 88 anos, foi afastado do Colégio Cardinalício e o papa argentino "dispôs sua suspensão para exercer publicamente seu ministério sacerdotal, assim como a obrigação de que permaneça em uma residência que lhe será atribuída para uma vida de oração e penitência".

O ex-núncio apostólico nos Estados Unidos, que atuava como diplomata do Vaticano em Washington, aparece ao centro da foto em um encontro no congresso norte-americano Foto: (Photo by CHIP SOMODEVILLA / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP)

Viganò explicou na carta que foi o próprio pontífice quem lhe perguntou em 2013: "Como é o cardeal McCarrick?", e que informou ao pontífice que o ex-arcebispo de Washington "corrompeu gerações de seminaristas e sacerdotes e o papa Bento XVI ordenou que ele se retirasse para uma vida de oração e penitência".

"No entanto, Francisco fez dele o seu fiel conselheiro junto com Maradiaga (Óscar Andrés Rodríguez, cardeal hondurenho) (...) Só quando foi obrigado pela denúncia de um menor e, sempre em função do aplauso dos meios de comunicação, tomou medidas para, assim, proteger sua imagem midiática", acusou Viganò.

O arcebispo italiano justificou a denúncia ao papa dizendo que a carta foi ditada para que todos saibam que "a corrupção alcançou o topo da hierarquia eclesiástica". Viganò destacou que enviou vários relatórios sobre a conduta do ex-arcebispo de Washington, mas que foi ignorado pelos cardeais Angelo Sodano e Tarcisio Bertonepelos, respectivamente, secretários de Estado de João Paulo II e Bento XVI.

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Extensão da denúncia

O ex-núncio também acusou o atual arcebispo de Washington, Donald Wuerl, sucessor de McCarrick, de conhecer as acusações, pois disse que ele mesmo o informou sobre o assunto em várias ocasiões.

Viganò fez acusações contra vários membros católicos pertencentes à ala mais progressista e próxima de Francisco, como o cardeal Maradiaga, e garantiu que também tem "relatórios" contra o recém-nomeado substituto para os Assuntos Gerais da Secretaria de Estado do Vaticano, o venezuelano Edgar Peña Parra.

O documento, com data de 22 de agosto, foi publicado neste domingo enquanto o papa se encontra em Dublin, na Irlanda, para o Encontro Mundial das Famílias e após declarações de Francisco repudiando os abusos sexuais cometidos pelo clero na Irlanda, admitindo o "fracasso" da Igreja para lidar com a questão.

Papa não irá comentar documento

O Papa Francisco disse neste domingo, 26, que ele não irá se pronunciar sobre as acusações. Francisco conversou com jornalistas enquanto embarcava para deixar Dublin e voltar para Roma, após dois dias de visita à Irlanda.

"Eu li o documento esta manhã. Eu o li e vou dizer que, sinceramente, eu preciso dizer isso para vocês (jornalistas) e para todos vocês que estão interessados: leiam o documento cautelosamente e julguem por vocês mesmos", disse.

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"Eu não vou dizer uma palavra sobre isso. Eu acho que o documento fala por si mesmo e vocês (jornalistas) têm capacidade jornalística suficiente para chegar às suas próprias conclusões", completou o pontífice.

/ EFE e REUTERS

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