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Exame é recomeço para 1,3 milhão

Entre os inscritos, 15% têm mais de 30 ano

Por Paulo Saldaña e Luiz Fernando Toledo
Atualização:
Quiqueto, de 47 anos, quer fazer Engenharia Foto: Rafael Arbex/Estadão

Aos 47 anos, casado e com três filhos, o técnico autônomo Sidney Quiqueto ri do passado. “Até algum tempo atrás eu não sabia nem pegar em um notebook.” Ele é um dos que farão o Enem para tentar retomar os estudos e buscar requalificação profissional. Em 2014, há 1,3 milhão de participantes inscritos com mais de 30 anos (15% do total). O número é quase igual ao de concluintes do ensino médio inscritos, que fica em torno de 1,7 milhão.

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Quiqueto assumiu a responsabilidade de um casamento cedo, aos 19 anos. “Passei a vida toda trabalhando”, diz. Agora que os filhos cresceram, viu no exame a oportunidade de realizar o sonho de ser engenheiro. “Sempre atuei na metalurgia e sou técnico de refrigeração. É uma área de muitas oportunidades.” 

O vendedor de máquinas Luís Antonio Campos, de 48 anos, usará a avaliação para perseguir um desejo antigo – cursar uma segunda graduação, em Geografia. Os objetivos já estão traçados: quer ser professor universitário. “Vendo equipamentos para construção civil. Faz falta o conhecimento sobre a geomorfologia do lugar.”

Campos é formado em História, mas seguiu com as vendas para pagar as contas. Casado e com dois filhos, chegou a dar aulas em cursinhos, mas sempre como profissão secundária. “Prefiro lecionar, mas, em termos financeiros, a venda dá quatro vezes mais dinheiro”, disse. “Se tudo der certo, vou dar aula à noite e fazer pesquisa de dia.” 

A distância da escola deixou a auxiliar administrativa Cristiane Lima, de 40 anos, insegura. Realizou a inscrição, mas ontem ainda tinha dúvidas se faria a prova. “A questão financeira sempre impediu que eu fizesse uma faculdade. Agora não tive tempo de me preparar, não sei se vale a pena fazer a prova.”

Apesar da insegurança de muitos candidatos, o especialista em Enem Mateus Prado, do Cursinho Henfil, diz que o exame facilitou a participação dos mais velhos. “Antes, quem tinha saído da escola havia um tempo se sentia constrangido de fazer vestibular. Agora há uma facilidade grande, as pessoas veem que podem entrar na universidade.” Neste ano, 997 mil se inscreveram para certificação do ensino médio.

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