Exército e líderes discutem providências contra militares

Advogado que vai representar famílias quer que militares sejam acusados como co-autores de homicídio

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Por Pedro Dantas
Atualização:

Líderes comunitários do Morro da Providência estão reunidos na manhã desta terça-feira, 17, com o comando militar da operação Cimento Social na comunidade para discutir providências sobre o caso dos três jovens seqüestrados por 11 militares e levados para o Morro da Mineira, onde foram mortos. O advogado João Tancredo, do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos, acompanha o grupo e anunciou que deve representar gratuitamente as famílias no caso. VEJA TAMBÉM Militares devem ser punidos, diz Jobim Delegado diz que militar confessou ter entregado jovens no Rio Moradores protestam em frente sede do comando militar no Rio Justiça decreta prisão de militares que ocupavam morro no Rio Moradores queimam ônibus em protesto contra Exército no Rio Chefe da milícia da Favela do Batan se entrega no Rio Tancredo não acredita que julgamentos militares fiquem restritos ao Tribunal Militar caso este aceite a tese de que houve apenas um seqüestro. "A causa eficiente do crime foi o fato de os militares entregarem esses jovens nas mãos de uma quadrilha rival. Logo, eles são co-autores do triplo homicídio", declarou Tancredo antes de entrar na reunião. Depois de o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), chamar os militares envolvidos na morte de três jovens no Morro da Providência de "marginais" e de ter classificado o crime de "atrocidade", a única sobrevivente contou uma versão bem diferente do que aconteceu. "Voltamos de táxi do baile da Mangueira. Na praça, no alto do morro, fomos parados e um soldado meteu a mão no cordão do Wellington. Ele reagiu e foi agredido. Reclamamos e eles disseram que estávamos presos sem nenhum motivo. Levaram eles e me liberaram", disse M., de 16 anos. O tenente, o sargento e um soldado disseram em depoimento à polícia que Wellington reagiu com palavrões à abordagem. Desde o início da ocupação militar na Providência, outras 12 pessoas foram detidas por desacato. "O Exército não pode conviver com o ilícito. O militar pode e deve deter alguém que esteja em flagrante delito", justificou o chefe de Comunicação Social do Comando Militar do Leste, Carlos Alberto Neiva Barcellos. Ele classificou o "incidente" que terminou na morte de três jovens como um "fato isolado", que não torna insustentável a presença do Exército na Previdência. Barcellos afirmou que o Exército "repudia veementemente qualquer desvio de conduta e qualquer ação fora da legalidade". Ele informou que foi aberto inquérito militar para apurar o crime. A única informação confirmada é que os três jovens mortos foram detidos por desacato. No entanto, o comandante da tropa, cujo nome não foi divulgado, determinou que eles fossem liberados por não haver motivo para detê-los. O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou que o episódio comprova que o Exército não está preparado para atuar nas ruas do Rio. "Se a Polícia Militar, que vive esse problema diuturnamente há 200 anos, tem suas mazelas, uma corporação que começou a fazer isso há pouco tempo já incorrer num problema desses é uma demonstração disso", afirmou Beltrame. "É, no mínimo, um momento de retomar uma série de conceitos, rever muitas coisas." Barcellos ainda evitou comentar as críticas de Beltrame. o governador elogiou o trabalho da Polícia Civil, que investigou o crime. "A polícia atuou com firmeza no caso desses 11 marginais que não honram a farda do Exército", disse Cabral, que está em viagem oficial à Alemanha. Ele disse esperar que o caso seja acompanhado por Lula e pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. O governador ressaltou que o comportamento dos militares presos não condiz com a reputação do Exército, "uma instituição que merece todo o apreço do povo". (Colaboraram Talita Figueiredo e Alexandre Rodrigues, de O Estado e S. Paulo)

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