Fã de ''''Laranja Mecânica'''' é preso por matar francês

Detido pelo DHPP em uma pensão no Glicério, o acusado pertencia a ao grupo Devastação Punk, que espelhava suas ações no filme de Kubrick

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Por Marcelo Godoy
Atualização:

O punk Genésio Mariuzzi, o Antrax, de 23 anos, foi preso ontem e confessou a policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) o assassinato do turista francês Grégor Erwan Landouar, de 35 anos. Landouar foi morto com uma facada no dia 11 de junho, às 22h30, horas depois do término da Parada do Orgulho Gay, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (GLBT). Antrax é acusado de ter ligações com uma gangue chamada Devastação Punk, formada por admiradores do filme Laranja Mecânica. Dirigido pelo cineasta Stanley Kubrick, a obra é baseada no livro do escritor inglês Anthony Burgess. Ele retrata um grupo de jovens que se dedica à pratica de estupros, roubos e atos de vandalismo, até que o líder deles, Alex, é traído pelos colegas e preso por homicídio. Suspeita-se que o Devastação Punk usasse o filme como exemplo. O grupo se reunia na Galeria do Rock, no centro, ou em um bar nos Jardins para decidir quando seria o próximo ''''horrorshow''''. O neologismo criado por Burgess em seu livro, que queria dizer ''''ótimo'''', ganhou um novo significado entre os punks da gangue. Era como eles chamavam as blitze que faziam na cidade em busca de uma vítima. Qualquer uma, desde que fosse um estrangeiro ou homossexual. O grupo flertava com idéias nacionalistas e causava o repúdio de outros punks, que não toleravam suas ações. A morte do francês teria ocorrido em uma dessas blitze. Landouar havia vindo ao Brasil para fazer um implante dentário - tratamento que custa aqui um quinto do que é cobrado na França. Não era a primeira vez que viajava ao Brasil para ir ao dentista - fez o mesmo em 2005. O turista ficou hospedado na casa de um amigo. Dias antes do crime, ele chegou a sumir por algumas horas em São Paulo, mas reapareceu. O consultório de seu dentista ficava nos Jardins, perto do bar Ritz. No dia do crime, depois de ver a Parada GLBT, Landouar foi ao Ritz, onde conheceu três gays que haviam participado da parada. Tomaram uma garrafa de champanhe até que os três brasileiros resolveram ir a uma boate. Landouar decidiu voltar para casa. Havia acabado de se despedir do grupo, quando foi atacado. Para os investigadores da Equipe C-Leste do DHPP, os punks não sabiam que ele era francês. Atacaram quem estava mais perto. O crime ocorreu num estacionamento de um banco na esquina da Rua Padre João Manuel com a Alameda Franca, nos Jardins, na zona sul. Depois da facada, os punks fugiram - eram pelo menos quatro. Antrax é acusado de ser o homem que desferiu o golpe com uma faca que ele se orgulhava de carregar. Ele mantém uma página no site Orkut onde exibe a arma. No dia 22, onze dias depois do crime, um grupo de punks foi acusado de matar o garçom John Clayton Moreira Batista, de 19 anos, em um bar dos Jardins. Batista foi esfaqueado. A polícia deteve em flagrante nove acusados - cinco adultos e quatro adolescentes. Um deste foi ouvido pelo DHPP no inquérito sobre a morte do francês e contou que Antrax seria um dos participantes do crime. A polícia conseguiu encontrá-lo ontem em uma pensão na Baixada do Glicério, no centro. Além da morte de Landouar, os policiais desconfiam de que a Devastação Punk esteja por trás de outras agressões ocorridas a partir de maio. A suspeita é que a gangue tenha espancado o filho de um boliviano. Pouco depois, o grupo teria atacado dois homossexuais na Bela Vista. A polícia vai apurar ainda outros casos, pois, desde o começo do ano, jovens com a aparência de punks têm agredido homossexuais nos Jardins.

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