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FAB expõe falhas de pilotos e do controle

Americanos se confundiram com painel de combustível e transponder

Por Tania Monteiro e Eugênia Lopes
Atualização:

O desligamento inadvertido do transponder (equipamento anticolisão), por um dos pilotos do Legacy, foi uma das principais causas do acidente com o Boeing da Gol, que matou 154 pessoas, em 29 de setembro de 2006. Ao tentar verificar o combustível disponível no avião, os pilotos americanos se confundiram e desligaram o transponder, colocando-o no modo stand by, conforme o Estado antecipou na edição de sábado. Especial: tudo sobre o acidente da Gol Os dois procedimentos são executados no mesmo equipamento de bordo. Distraídos em fazer cálculos para o pouso em uma pista mais curta do que esperavam encontrar em Manaus, e sem familiaridade com a aeronave, os pilotos não perceberam, durante 59 minutos, o sinal de alerta de que o transponder não funcionava. Os controladores de tráfego aéreo também "falharam" na execução dos procedimentos obrigatórios em suas funções. Houve "uma seqüência de equívocos". As informações constam do relatório sobre os fatores contribuintes do acidente apresentado ontem pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). O órgão da Aeronáutica concluiu que os pilotos "desligaram o transponder, inadvertidamente, durante familiarização ou operação da RMU", que é a unidade de gerenciamento de rádio. No processo de conclusão, o Cenipa descartou várias hipóteses. Uma delas é a de que não houve intenção de desligá-lo porque ninguém abre mão de um equipamento anticolisão propositalmente, por questão de segurança e, se isto tivesse sido feito, os pilotos teriam pedido ao controle para mudar de altitude e aumentar o distanciamento na vertical, em relação a outras aeronaves. Sem citar nomes, o relatório aponta que quem colocou o equipamento em stand by foi Joe Lepore, o piloto que estava sentado à esquerda da aeronave, depois de ter deixado o equipamento inoperante, após ter apertado o transponder duas vezes, em menos de 20 segundos, quando acionava o display na tela, sem se dar conta dessa ação, deixando-o sem transmitir sinal por 59 minutos. Além dos controladores de São José dos Campos, de onde o Legacy partiu, e de Brasília, que foram econômicos nas recomendações aos pilotos americanos, o relatório, pela primeira vez, aponta também os controladores de Manaus como colaboradores para a tragédia. O texto chega a fazer um mea-culpa, dizendo que "os efeitos da escassez de pessoal refletiram na qualidade dos serviços, na medida em que contribuíram para a degradação do desempenho dos controladores e/ou da insuficiente capacitação técnica". O relatório, portanto, classifica como fator contribuinte a formação dos controladores. Na apresentação do relatório, feita pelo chefe do Cenipa, brigadeiro Jorge Kersul, e pelo responsável pelo relatório, coronel Antônio Rufino, os militares salientaram que os pilotos do Legacy "tiveram pressa" em decolar porque foram pressionados pelos passageiros, tinham "um plano de vôo inadequado" - elaborado por um funcionário da Embraer, fabricante do avião - e tinham"baixa consciência" em relação à situação de vôo, pois não fizeram o tradicional "briefing" antes da decolagem, pois o consideraram como "de rotina". Ficou claro também que eles não dominavam a tecnologia do Legacy e os dois pilotos não se conheciam e nunca tinham trabalho em conjunto, o que levou a tomada de decisões isoladas, em momentos decisivos do vôo. ORIENTAÇÕES Uma das 65 recomendações emitidas pelo Cenipa tenta, exatamente, evitar que o problema de falta de comunicação entre pilotos e controladores se repita por tanto tempo. O Cenipa pediu à Organização Internacional de Aviação Civil (Icao, na sigla em inglês) que estabeleça um limite máximo de tempo sem contato entre os dois, mas não sugere de quanto tempo seria. Outra recomendação é para que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) aumente a fiscalização na entrega de aeronaves a estrangeiros (mais informações na página C6). Um dos problemas detectados foi que os pilotos não tinham conhecimento do equipamento nem do plano de vôo. O Cenipa pediu ao FAA - que regula a aviação civil nos Estados Unidos - que oriente os pilotos que voem para fora do país sobre as regras internacionais. Sugere também a instalação de alarmes e alertas tanto na cabine do avião como nos centros de controle de tráfego aéreo, para que todos fiquem mais alertas, quando o transponder for desligado. AS CAUSAS 1. Não realização de um adequado planejamento de vôo pelos pilotos do jato Legacy 2. Pressa para decolar e a pressão dos passageiros do Legacy, impossibilitando o suficiente conhecimento do plano de vôo pelos pilotos 3. Desligamento inadvertido do transponder, "possivelmente pela pouca experiência dos pilotos" do Legacy 4. Falta de comunicação entre pilotos e controladores 5. Falta de entrosamento entre os pilotos do Legacy e pouca experiência em pilotar esse tipo de aeronave 6. O controle de tráfego aéreo de São José dos Campos, Brasília e Manaus, apesar de estar prestando serviço de vigilância radar, não corrigiu o nível de vôo do Legacy nem realizou procedimentos previstos para a certificação de altitude quando passou a não receber as informações do transponder 7. Os controladores não transferiram corretamente o tráfego de Brasília para Manaus 8. Os controladores de vôo não ofereceram a freqüência prevista para que o jato Legacy se comunicasse adequadamente na região da Amazônia 9. A falta de envolvimento do supervisores dos controladores de vôo permitiu que as decisões e ações relativas ao jato Legacy fossem tomadas de forma individual, sem o acompanhamento, assessoramento e orientação previstos para o controle de tráfego aéreo

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