PCC usa empresa investigada pela Lava Jato, bitcoin e videogames

Agentes detectaram lavagem de dinheiro de Marcola; grupo usa criptomoedas para movimentar ativos e fazer pagamentos

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Por Marcelo Godoy
2 min de leitura

Um posto de gasolina em Mauá, na Grande São Paulo, é o elo entre a lavagem de dinheiro de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), e mais uma empresa investigada pela Polícia Federal na Operação Lava Jato.

O posto tem entre seus proprietários a empresa DVBR Alfa Participações e é um dos 32 de uma rede por onde teria sido lavado dinheiro de um esquema da organização que movimentou de forma atípica R$ 245 milhões, dos quais R$ 60,6 milhões em espécie, de acordo com relatório da PF na Operação Rei do Crime. Segundo o delegado Rodrigo Costa, a operação investigou 78 empresas que, em quatro anos, movimentaram R$ 32 bilhões e obteve o bloqueio de bens avaliados em R$ 730 milhões.

Relatório da PF aponta posto de gasolina usado pelos criminosos Foto: Reprodução

Essa não foi a primeira vez que os esquemas de lavagem do PCC cruzaram os caminhos da Lava Jato. Em 2014, durante a Operação Oversea, da PF, os agentes acharam no cofre da casa de um sítio do traficante Suaélio Martins Leda, de 54 anos, documentos das empresas Labogem e Piroquímica, ambas relacionadas na Lava Jato. Suaélio ficou preso até julho de 2020, quando recebeu o direito de aguardar em casa o fim da pandemia de covid-19. Está foragido.

CRIPTOMOEDAS

A partir de 2018, os traficantes do PCC e seus associados passaram a usar a estrutura de doleiros para operar com criptomoedas e, assim, evitar a circulação de papel para os pagamentos da facção. “Você ainda tem entrega física, em espécie, mas para que vou me arriscar se posso dar um comando no computador e colocar 2 milhões em uma conta na China, sem controle? O bitcoin não tem controle. Posso pegar uma exchange no Brasil, mas posso abrir uma conta através de uma offshore na França, na Inglaterra, na China”, afirma Costa.

Além das criptomoedas, os traficantes estão usando o canal de voz de videogames, como a party, do Playstation, para driblar a vigilância policial. O que as redes sociais haviam embaralhado e subtraído da polícia na década passada – por meio da oferta de comunicação criptografada – os videogames ampliaram. Desconfiados da segurança de aplicativos, bandidos têm testado métodos alternativos de comunicação. Cada um se cadastra com apelidos e convida o “amigo” para fazer parte de seu canal de voz. Não é necessário nem mesmo jogar. Os dois alvos podem “bater papo” pelo console como se estivessem em um telefone. 

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