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Falha humana deve ter causado queda do avião, dizem militares

Secretário de Segurança do Mato Grosso abriu inquérito para investigar as causas e apurar as responsabilidades pelo acidente

Por Agencia Estado
Atualização:

Embora ninguém se arrisque a listar as possíveis causas da queda do avião da Gol na tarde de sexta-feira, militares especulam que a causa mais provável do acidente seja um conjunto de erros humanos. A especulação do conjunto vem das dúvidas sobre por que os dois aviões estavam na mesma altitude, por que as alturas não foram corrigidas quando os alarmes soaram no Legacy e no Boeing da Gol e por que o Centro de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (Cindacta), em Brasília, não advertiu os dois pilotos para que mudassem de altura. Além do depoimento do piloto americano do Legacy, as fitas do Cindacta com as imagens (pontinhos representados por números) dos dois aviões foram resgatadas para serem analisadas. O último horário em que as aeronaves aparecem no painel de controle foi às 16h48. A partir daí elas desaparecem. Mas há outros registros de contatos do piloto do Legacy falando em emergência informando que precisava pousar na pista da Base de Cachimbo, no sul do Pará. Na hora que os dois aviões desapareceram da tela, soou um alarme no Cindacta. O operador responsável pela tela, na hora do acidente, também foi ouvido. A investigação aberta pela Força Aérea tem prazo de pelo menos 90 dias, prorrogáveis por mais 30 dias, por quantas vezes forem necessárias, até ser encontradas todas as causas do acidente. Esta investigação tem prazo flexível porque o objetivo da investigação do Centro de investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) não é buscar culpados, mas verificar todos os motivos que levaram ao acidente e evitar que outros ocorram pelo mesmos motivos. Apuração A apuração de responsabilidades é da Polícia, de acordo com a Aeronáutica. O piloto do Legacy, que é americano, já foi ouvido. Mas ficará à disposição da Justiça, até que seja liberado para retornar ao seu país. Ele não está detido, mas à disposição para ajudar nas investigações. Já o avião não pode deixar o país, até porque não tem condições técnicas, para ser detidamente periciado. Não há registro, no entanto, de qualquer comunicação do piloto da Gol depois do choque. Como os aviões comerciais seguem rigorosamente todos os procedimentos estabelecidos, como altitude e rota, e o piloto Décio tinha mais de dez mil horas de vôo e conhecia a rota, dificilmente, na avaliação de técnicos militares, ele não teria se desviado um milímetro de seu trajeto. Por outro, o piloto americano do Legacy, embora também seja experiente, não conhecia a área e certamente poderia ter deslocado para cima ou para baixo, provocando o acidente. Mas aí vêm inúmeras perguntas básicas. A principal é como os dois aviões, o Boeing 737-800 da Gol e o jato executivo Legacy, que têm alarmes que são acionados assim que detectam qualquer obstáculo à frente, se chocaram. Outra dúvida é por que ambos pilotos não alteraram suas posições, como mandam os equipamentos. Da mesma forma, o sistema de controle de vôo também tem redundâncias para evitar acidentes: se falhar a primeira, a segunda já entra em operação automaticamente e assim sucessivamente. Então, "por que houve tantos problemas?", questionam os militares. Os militares alertam também que os próprios radares poderiam apresentar defeitos, embora tudo tenha possibilidade de esclarecimento posterior. O choque, lembram, deve ter ocorrido quando ambos aviões estavam a cerca de 800 quilômetros por hora. Inquérito O secretário de Segurança do Mato Grosso, Célio Wilson de Oliveira, afirmou que abriu um inquérito na Polícia Civil para investigar as causas e apurar as responsabilidades pelo acidente. O inquérito criminal deverá ser concluído no prazo de 30 dias, prorrogáveis se necessário, em paralelo ao inquérito também aberto pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e deverá apurar a possibilidade de o piloto do Legacy, que teria se colidido com o Boeing 737-800, ser enquadrado por homicídio culposo. "Alguém errou, ao que tudo indica", disse Oliveira, acrescentando que as normas de tráfego aéreo são muito rígidas quanto à altitude e rota de vôo. "Como a região é de baixíssimo tráfego aéreo, isso reforça a suspeita de que houve erro humano." O secretário não quis antecipar se a suspeita maior de erro recai sobre o piloto do Legacy. O avião fabricado pela Embraer faria um pouso de abastecimento em Manaus. "Sabe-se apenas que esse avião estava no lugar errado." A Secretaria de Segurança mandou equipes em helicópteros para ajudar no resgate dos corpos do local do acidente. Além de bombeiros, policiais civis e integrantes da Defesa Civil, há também peritos, um deles especialista em DNA, para trabalhar na identificação das vítimas. O delegado Luciano Inácio coordena as investigações. Sindicato A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, defendeu na tarde deste sábado rigor na apuração e investigação do acidente com o avião da Gol para prevenir futuros acontecimentos como este. Segundo a sindicalista, ainda é muito cedo para o sindicato se pronunciar sobre especulações do que pode ter acontecido. Graziella também enfatizou que o piloto da aeronave é extremamente experiente. "Ainda é muito cedo. Não dá para fazer nenhuma análise. É preciso uma investigação bastante apurada", afirmou Graziella. Segundo ela, o mais importante nesse momento é apurar todas as possibilidades.

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