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Falhas e riquezas do Brasil atraem terroristas, diz ex-terrorista

Por Agencia Estado
Atualização:

O fundador da Frente Patriótica Manuel Rodrigues (FPMR), César Quiróz, de 48 anos, diz saber por que as organizações terroristas da América Latina escolhem empresários brasileiros para seqüestrar. Por causa de uma "simples" combinação: alta renda concentrada nas mãos de poucos, segurança pública falha e brechas na lei. "É melhor o Brasil", disse o militar profissional e guerrilheiro Quiróz em entrevista ao Estado, realizada em sua casa, num subúrbio de Santiago. A militância de Quiróz começou em 1969, quando entrou para a Juventude Comunista chilena. Após anos de treinamento militar, financiados pelo Partido Comunista do Chile, na Bulgária e antiga Alemanha Oriental - onde alcançou a patente de tenente - ele e outras pessoas fundaram a Frente Patriótica. Quiróz era principalmente o responsável pelo treinamento militar de chilenos em Cuba e na Nicarágua. Ele diz que conheceu pouco Mauricio Hernández Norambuena, mas acredita que o seqüestro do publicitário Washington Olivetto faz parte de uma estratégia para erguer o movimento revolucionário e a própria frente no Chile. Hoje, Quiróz comanda o Movimento Patriótico Manuel Rodrigues (MPMR) - braço político da Frente Patriótica - que, com a Frente, apóia organizações como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército Popular (Farc-EP) e divulga as ações por jornais e revistas próprios e a Internet. Estado - Quanto tempo o senhor militou na Frente Patriótica? César Quiróz - Sou do princípio da Frente, desde muito antes. Fui militante da Juventude Comunista desde 1969. Sou um dos fundadores da Frente. Estado - No início, o comandante Salvador (atual líder do grupo) e Mauricio Hernández Norambuena faziam parte do grupo? Quiróz - Não. Nenhum dos dois estava. Salvador estava na Nicarágua desde 1979, participando da revolução. Estado - Como foi a participação do senhor durante esses anos na Frente Patriótica? Quiróz - Eu sou oficial, sou preparado, militar profissional (como Norambuena). Treinei na Bulgária entre 1976 a 1981. Nessa condição, participei da criação de idéias e pensamentos para a criação da Frente Patriótica, que aconteceu em 1983. Estado - Quantos anos o senhor participou ativamente da Frente? Quiróz - Hoje sou do Movimento Patriótico Manuel Rodrigues (o braço político da Frente). Fiquei da criação até 1987, foi quando surgiram duas frentes. Uma que se autodenominou Frente Autônoma (atual FPMR) e uma outra (o MPMR) que se identifica com o Partido Comunista. Em 1991, o Movimento apareceu publicamente. Estado - Durante esses anos na Frente qual era a sua função? Quiróz - Eu fundamentalmente atuava no exterior. Estive em Cuba, entre 1981 a 1984, ajudando a revolução cubana como militar e dando treinamento em uma escola militar e, depois, fui para a Nicarágua, onde fiquei entre 1985 a 1988, participando da contra-revolução, treinando e sendo o responsável pelos chilenos que participavam da luta. Estado - O que o senhor ensinava? Quiróz - Eu era o tenente responsável, em Cuba, na preparação dos oficiais. Era professor de táticas militares na guerrilha. Ensinava defesa, ofensiva e emboscada para os batalhões. Estado - Que tipo de arma usava? Quiróz - Armamento soviético, fuzil Kalachinicov, tanques, carros blindados e, na Nicarágua, participava do Batalhão de Luta Irregular (BLI), onde defendíamos o território nacional. Estado - Como era a atuação da Frente Patriótica no Chile no início? Quiróz - Era uma reação contra os aparatos da ditadura (de Augusto Pinochet). Eram ataques a quartel, a torres, ação de recuperação de dinheiro, assaltos a bancos e recuperação de armas Estado - O senhor já matou? Quiróz - O combate e a guerra são lutas a distância com trocas de fogo e seguramente como morria gente do meu lado, morria gente do lado de lá. Estado - O senhor conheceu Mauricio Hernández Norambuena? Quiróz - Eu o conheci quando estava preso, em 1993, antes de sua fuga. Estado - Como o senhor avalia a atuação de Norambuena, que seqüestrou o publicitário Washington Olivetto em nome da Frente Patriótica? Quiróz - Creio que as motivações de Norambuena são políticas. Em nenhum caso eu acredito que seja uma ação criminosa. Acredito que sua motivação foi para ajudar a erguer o movimento revolucionário no Chile e a Frente Patriótica. Estado - Entretanto, a Interpol e a polícia acreditam que ele iria usar o dinheiro do seqüestro para montar um outro grupo para ações criminosas, como seqüestro, assaltos. Quiróz - Não acredito que o seqüestro (de Washington Olivetto) seja criminoso, foi motivação política, envolvendo um projeto revolucionário. Nós o conhecemos como um lutador antiditatorial e o respeitamos. Estado - Mas hoje em dia esses tipos de ações não são criminosas? São necessárias? Quiróz - Essa é a opção dele como movimento. Ele está reconstruindo a Frente Patriótica. Estado - A Frente Patriótica mantém alianças com grupos como as Farc-EP e a ALN? Quiróz - O Movimento Patriótico Manuel Rodrigues mantém relações com muito boas com as Farc, damos apoio a um grupo de trabalho das Farc no Chile. Estado - A Frente Patriótica mantém relações com que grupos na América Latina? Quiróz - A Frente patriótica tem relações com muitos grupos revolucionários. Nos encontramos em vários fóruns, como em São Paulo, e outras cidades de diversos países. O que existe hoje é a solidariedade entre grupos revolucionários. Nós, por exemplo, vendemos a revista das Farc no Chile. Estado - Para o senhor o seqüestro de Olivetto teve a participação apenas da Frente Patriótica? Quiróz - Não é necessário o apoio de outros grupos para esse tipo de ação. Estado - O senhor acredita numa possível participação dos seqüestradores do empresário Abílio Diniz no seqüestro de Olivetto? Há muitas semelhanças. Quiróz - Não acredito na relação. Acredito que o modus operandi foi copiado, é a experiência e Norambuena tem experiência para agir sozinho. Estado - O senhor é a favor da extradição dele? Quiróz - Sobre esse asunto não falo. Estado - Por que as organizações revolucionárias e terroristas escolhem o Brasil para seqüestrar e não outros países da América Latina? Quiróz - É melhor o Brasil, porque há pessoas com muito dinheiro. É melhor o Brasil, por causa de sua segurança pública, que tem falhas e pode ser rompida com maior facilidade, e existem brechas na lei. Estado - O senhor acredita que ações como a executada pela Frente Patriótica continuarão a existir? Quiróz - Acredito que enquanto existir a miséria, a exclusão social a luta revolucionária e os grupos revolucionários vão se estender. É uma lei da humanidade. Leia mais ?MIR não tem ligação com grupo que seqüestrou Olivetto? Identificado mais um seqüestrador de Olivetto Polícia dará cobertura a Olivetto em entrevista Cresce procura por apólice de seguro anti-seqüestro em SP Irmã de líder dos seqüestradores chega a São Paulo Olivetto ofereceu US$ 6 milhões aos seqüestradores Guerrilheiros em seqüestros preocupam governo Olivetto exige RG de jornalistas para entrevista Agentes chilenos interrogam Norambuena Polícia vistoria apartamento usado por quadrilha em Santos Veja a galeria de imagens

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