Faltam 29 piscinões na bacia do Rio Tamanduateí

Hoje, 17 reservatórios estão em operação; deveriam funcionar 46

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Por Eduardo Reina
Atualização:

A bacia do Rio Tamanduateí deveria ter em operação hoje 46 piscinões ao longo de seu percurso e às margens de seus afluentes, de acordo com o Plano Diretor de Macrodrenagem. Até hoje, no entanto, foram construídos 17 reservatórios, segundo o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) - autarquia vinculada à Secretaria de Estado de Saneamento e Energia. Há também outros dois piscinões em execução. Os equipamentos de contenção represariam a água da chuva e evitariam grandes enchentes, como as que provocaram o caos na capital e no ABC paulista anteontem. A comparação entre os picos de vazão ao longo do tempo revela o nível de saturação do rio. A calha atual, projetada nos anos 1970, tem vazão de 480 m³ de água por segundo. Atualmente, chegam ao Rio Tietê pela foz do Tamanduateí 800 m³/s. "Por isso, toda vez que chove o que sobra transborda", diz Julio Cerqueira Cesar Neto, engenheiro da área sanitária e ambiental e ex-presidente da Agência da Bacia do Alto Tietê. Técnicos do DAEE calculam também que o pico de vazão poderá aumentar a níveis alarmantes caso não sejam implementadas intervenções rápidas. Se os piscinões do Programa de Combate às Inundações estivessem construídos, a situação melhoraria na capital e no ABC. Estudo do Consórcio Intermunicipal do ABC, que reúne as sete cidades, mostra que o pico de vazão do Ribeirão dos Meninos, hoje de 719 m³/s, cairia para 207 m³/s e se ajustaria à capacidade para a qual foi projetado ao entrar no Tamanduateí - 380 m³/s. "Estamos fazendo a revisão antecipada do plano de drenagem e, em breve, vamos apresentar aos prefeitos um novo plano diretor. O projeto é construir novos reservatórios para quase 7 milhões de m³ de água. Hoje, 2 milhões de m³ são necessidade urgente. Mas as áreas disponíveis para essas obras estão cada vez mais difíceis", explicou Ubirajara Tannuri Félix, superintendente do DAEE. A construção de piscinões é a única saída para a bacia do Tamanduateí. É impossível alargar o canal do rio, que nasce em Mauá e deságua no Rio Tietê após percorrer 35 quilômetros, sendo 29 deles margeados pela Avenida do Estado, porque o trecho está quase totalmente urbanizado. O rio não pode ser aprofundado, uma vez que prejudicaria a vazão no Tietê. "São Paulo carece de investimentos estruturais como a construção de piscinões, diques e reservatórios. Também é preciso priorizar a canalização de córregos e rios e o aprofundamento da calha do Tietê", diz professor de Engenharia Civil da Uninove João Batista Mendes. No limite entre São Paulo e São Caetano, o DAEE anunciou a construção de um novo piscinão, no Córrego Jaboticabal, que deverá minimizar o problema de enchentes, principalmente no km 13 da Via Anchieta. Será o 20º reservatório na bacia do Tamanduateí. O reservatório, com capacidade para 500 mil m³ de água, será construído pelo governo estadual, em terreno particular, custeado pela Prefeitura de São Paulo. O alagamento na Anchieta é recorrente há mais de duas décadas. A obra de alteamento da ponte sobre o Ribeirão dos Couros, na Via Anchieta, está impedida de ser realizada por força de liminar obtida pela prefeitura de São Caetano, que teme a transferência do problema para a cidade. De acordo com a prefeitura, a água iria do Ribeirão dos Couros direto para o dos Meninos, piorando as enchentes no Jardim São Caetano, centro e Vila São José. No ano passado, o programa de combate a enchentes do governo estadual investiu R$ 38,8 milhões, dos R$ 40 milhões previstos. Para a limpeza de canais e corpos d?água havia previsão de recursos próprios de R$ 4,7 milhões - foram aplicados R$ 2,9 milhões. O governo federal repassou quase R$ 1,8 milhão para limpeza de córregos na cidade de São Paulo. PEQUENO ALÍVIO O Rio Tamanduateí e a Avenida do Estado são dois protagonistas e testemunhas de inúmeras histórias envolvendo enchentes e obras públicas. A canalização do rio demorou 20 anos para ser concluída e consumiu mais de US$ 1 bilhão dos cofres públicos. Iniciada em 8 de abril de 1978 pelo governador Paulo Egídio Martins, a obra seria entregue em 24 meses e eliminaria definitivamente as enchentes provocadas pelo Tamanduateí na capital. Passaram, no entanto, pelo Palácio dos Bandeirantes Paulo Maluf, Franco Montoro, Orestes Quércia, Luiz Antonio Fleury Filho e Mário Covas até que as obras foram finalizadas. Entre 1979 e 1982, Maluf resolveu fazer sobre o rio um tampão de concreto de 2,6 km entre o Cambuci e a Baixada do Glicério. A avenida então ganhou mais pistas. Por um breve período, depois da canalização no trecho da capital ser concluída - nos 17 quilômetros da avenida no ABC o Tamanduateí não é canalizado - as regiões vizinhas à avenida viveram sem o tormento das grandes cheias.

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