Faltou estratégia contra seqüestro, diz Petrelluzzi

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O procurador de Justiça Marco Vinicio Petrelluzzi assumiu a Secretaria da Segurança, há três anos, com um grande desafio: reduzir o número de homicídios. Petrelluzzi deixa o cargo no dia 22 legando ao sucessor, o também promotor Saulo de Castro Abreu Filho, outro grande desafio: conter a onda de seqüestros, ocorrência que experimentou um aumento de 323% em 2001. "Conseguimos controlar os homicídios após muito trabalho e esperamos fazer o mesmo com os seqüestros, um crime novo que requer uma nova estratégia", diz, admitindo que a polícia não estava preparada para enfrentar o crescimento do número de casos. "Houve um pulo grande a partir do segundo semestre do ano passado." Para o secretário, é preciso ter gente especializada em cada região do Estado para cuidar das investigações. A Divisão Anti-Seqüestro (Deas) da capital foi ampliada e o interior está se organizando com equipes formadas pela Academia da Polícia Civil. "Uma coisa é o seqüestro de um grande empresário, de muita posse, que ocorre uma ou duas vezes por ano. Outra é o assalto seguido de seqüestro, como estamos enfrentando na capital e em algumas cidades do interior." Petrelluzzi acredita que, além do aumento do policiamento especializado, será preciso uma resposta rápida da Justiça, com a aplicação de pesadas condenações e uma cadeia especial para os seqüestradores. "Prendemos até o fim do ano 240 pessoas envolvidas em seqüestros, descobrimos 79 cativeiros e a polícia matou 17 criminosos em confronto e nas perseguições. Este é o tipo do criminoso que deve ter um tratamento diferenciado pela Justiça." Após três anos, Petrelluzzi deixa o posto para ser candidato a uma vaga na Câmara dos Deputados. "Foi uma gestão de mudanças, de reformulação. Eu sou um reformulador. Abri a cabeça, peguei as boas idéias para implantar as reformas. A fórmula, muita gente sabia, mas muitas pessoas não tiveram forças para implantar." O secretário manda um recado ao seu sucessor. "Quem está chegando não deve mandar pela caneta. Deve convencer as pessoas com conversa e compreensão." Agência Estado - Que balanço o senhor faz após três anos? Petrelluzzi - Fiz muitas coisas. Uma delas foi a integração das polícias. Os mais céticos diziam que jamais haveria troca de informações entre as Polícias Civil e Militar. Não só conseguimos a troca de informações como unimos as chefias das polícias no mesmo prédio. Quebramos a resistência, algo que muita gente achava impossível. AE - Há risco de, em o senhor saindo, acabar a integração? Petrelluzzi - Não tem volta. Criamos mais comandos e chefias das polícias no interior. Todos trabalham unidos. Hoje trocam informações, se reúnem e a cobrança de metas é feita para as duas instituições. Hoje o policial pensa diferente. Todos estão voltados para a diminuição do crime. AE - Como o senhor conseguiu a integração? Petrelluzzi - Eu participei de reunião dos comandos das polícias e de algumas ações nas ruas. Mudamos os padrões de policiamento. Compramos armas, munição, carros e coletes. AE - O senhor não encontrou dificuldades? Petrelluzzi - Muitas. A cultura das polícias. A mentalidade de competição. Em Santos, os crimes aumentavam. Reuni as chefias das duas polícias e pedi planos. Voltei 15 dias depois e cada um comentou e apresentou trabalhos isolados. Troquei os comandos, eles se afinaram e a situação melhorou bastante. AE - A afinidade das polícias chegou a balançar? Petrelluzzi - Sim. Depois da publicação pelo Diário Oficial da decisão do Tribunal de Justiça sobre o Termo Circunstanciado, autorizando a Polícia Militar a registrar algumas ocorrências sem ter de apresentá-las nos distritos. Isso reacendeu a disputa. Foi difícil. Hoje estamos voltando à normalidade. AE - Homicídios, latrocínios, assaltos, furtos. Porque os crimes aumentaram? Petrelluzzi - Os números eram altos. Foi um desafio lançado para a própria polícia. Os postos fixos com carros e policiais que instalamos servem como pontos de referência para a população. Houve uma boa queda dos crimes. Mas não é ainda o que desejamos. AE - Os bares abertos colaboram com os crimes? Petrelluzzi - Em Santo Amaro, Itaquera e São Mateus, que registram os maiores índices de homicídios na capital, conseguimos diminuir os crimes com o trabalho nos bares. Descobrimos através do sistema de informações integradas (Infocrim) os lugares onde ocorriam os homicídios e concentramos o policiamento. A queda foi de 5,1% no ano passado na capital e 3,4% no Estado nos dois últimos anos. Os latrocínios (assaltos seguidos de morte) caíram 17% em dois anos. AE - Como o senhor enfrentou a corrupção nas polícias? Petrelluzzi - Nós tivemos um aumento no número de policiais demitidos e expulsos. As corregedorias tiveram sempre liberdade absoluta para suas ações. E deve ser sempre assim. Há um estudo pronto para dar mais garantias ao policial que trabalha na corregedoria. Ele deve ter tratamento diferenciado. AE - O episódio da Cracolândia, com policiais do Denarc acusados de extorsão, arranhou seu trabalho na polícia? Petrelluzzi - Casos como o da Cracolândia nós tivemos muitos e posso garantir que todos os envolvidos foram punidos fortemente. Neste caso específico os policiais foram filmados e isso deu muita repercussão. As acusações de extorsão e espancamento estão sendo apuradas pela corregedoria. Em tráfico eu não acredito que tenha ocorrido. AE - A rejeição da teletaxa, que seria deduzida de contas telefônicas para obter recursos para o reaparelhamento da polícia, foi uma derrota para o senhor? Petrelluzzi - O dia em que eu sair daqui vou ser o maior defensor da teletaxa. As Secretarias da Saúde e da Educação têm incentivos. Nós não temos nada para investimento. Eu trouxe a idéia dos Estados Unidos. Em Chicago e em Nova York o desconto vem na conta telefônica. Pelos cálculos, os R$ 2,50 por conta nos renderiam R$ 400 milhões em três anos. Daria para investir num sistema de comunicação moderno, computadores nos carros. Não deu certo. Achei que alguém pudesse ser a favor de um imposto. AE - Quem mais dá trabalho: a Polícia Civil ou a Polícia Militar? Petrelluzzi - Cada uma tem os seus problemas. A Polícia Militar é mais organizada do que a Polícia Civil, mas resiste ao novo. A Polícia Civil, quando há necessidade de uma ação rápida, se mobiliza com facilidade. As duas têm resistência às mudanças. AE - O senhor prometeu esvaziar as celas dos distritos. Dos 93 existentes na capital somente 23 estão sem presos. Por quê? Petrelluzzi - Para tirarmos os presos, dependemos da construção dos Centros de Detenção Provisória. Na capital, a Prefeitura não cede os terrenos. Se tivéssemos os terrenos daria para construir dez presídios e absorver todos os presos dos distritos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.