Família divulga morte de ativista que liderou denúncias contra João de Deus

Consulado Brasileiro em Barcelona, Itamaraty e polícia local da cidade não confirmam oficialmente a morte de Sabrina; ela teria deixado suposta carta de despedida nas redes sociais, que depois foi apagada

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Por Juliana Diógenes
Atualização:
Sabrina Bittencourt, ativista que ajudou a reunir denúncias contra o ex-médium João de Deus Foto: Arquivo pessoal

A família de Sabrina Bittencourt, que coletou denúncias contra o médium João de Deus e criou o movimento Combate ao Abuso no Meio Espiritual (Coame), divulgou neste domingo, 3, que a ativista morreu no sábado, por volta das 21 horas. Um dos grupos de combate a abusos aos quais ela estava ligada afirmou tratar-se de suicídio. Inicialmente, família e grupos falavam em morte na Espanha; à noite, divulgou-se que seria no Líbano. O Estado buscou autoridades durante todo o dia, mas o caso continuava sem confirmação oficial até as 23 horas.

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A morte foi confirmada pelo filho Gabriel Baum e por Maria do Carmo Santos, presidente do grupo Vítimas Unidas, criado por mulheres abusadas pelo ex-médico Roger Abdelmassih, com quem Sabrina lutava para coletar provas e reunir vítimas para denunciar crimes sexuais. Procurado, o Consulado em Barcelona informou à tarde, porém, que a polícia não havia reportado nenhum caso ao órgão, como é de praxe.

A polícia de Barcelona, acionada pelo Estado, disse que não tinha informações sobre o óbito de uma brasileira na cidade neste sábado. Procurado para confirmar a morte, o Itamaraty informou que não havia recebido a informação sobre a morte da brasileira. E informou também que o órgão estava sem sistema, sendo preciso aguardar hoje para a realização de consultas detalhadas.

O filho Gabriel Baum confirmou a morte da mãe em uma rede social ontem. “Ela não queria ser morta pelas quadrilhas nem pelo câncer. Minha mãe lutou até o final. Ela não desistiu. Ela só se libertou do inferno que estava vivendo”, disse. 

Em nota, assinada pela presidente do Vítimas Unidas, Maria do Carmo, e divulgada às 11h30 deste domingo, o grupo diz que “a ativista cometeu suicídio e deixou uma carta de despedida relatando os porquês de tirar a própria vida” na Espanha. “Pedimos a todos que não tentem entrar em contato com nenhum integrante da família, preservando-os de perguntas que sejam dolorosas neste momento tão difícil. Dois dos três filhos de Sabrina ainda não sabem do ocorrido e o pai, Rafael Velasco, está tentando protegê-los. Ainda não temos informações sobre o local do velório nem onde ela será enterrada.” O texto completa que “a luta de Sabrina jamais será esquecida e continuaremos, com a mesma garra, defendendo as minorias, principalmente as mulheres que são vítimas diárias do machismo”.

À noite, porém, Baum voltou às redes sociais e disse que a mãe havia deixado Barcelona e ido para o Líbano, onde morreu. Sua intenção era ser enterrada debaixo de uma oliveira. Ele também disse que Rafael está medicado, pediu respeito às pessoas que procuravam mais informações sobre a morte e destacou que o último desejo de Sabrina seria criar uma rede cidadã online contra abusos. 

João de Deus. No início da tarde de sábado, a reportagem falou por WhatsApp com a ativista. “Estou tratando um linfoma e não vejo meus filhos para poder ajudar todo mundo.” Na conversa, que era sobre as acusações que vinha fazendo, disse ainda que estaria sendo perseguida, sem dar detalhes.

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Sabrina esteve envolvida na coleta de denúncias de vítimas de João Teixeira de Faria, acusado de abusos sexuais e preso desde dezembro. Na manhã do sábado, ela chegou a se manifestar sobre a prisão do filho do médium, Sandro Teixeira de Faria. A Justiça recebeu denúncia do Ministério Público de Goiás (MP-GO) contra ele por coação no curso do processo e corrupção ativa – e determinou sua prisão. “Confirmo que Sandro Teixeira tem ameaçado nossas testemunhas, coagido, entrado na casa das pessoas... Estamos protegendo várias destas vítimas e testemunhas”, disse ela.

Sabrina disse ter recebido ao menos 185 denúncias contra 13 líderes espirituais brasileiros desde setembro – após relatos de supostos abusos cometidos pelo guru Sri Prem Baba.

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